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domingo, 12 de janeiro de 2014

Óbidos uma história de encantar

A Vila de Óbidos guarda séculos de história entre as suas muralhas que em tempos fortificavam a vila derivando daí o nome Óbidos do termo latino oppidum, significando «cidadela», «cidade fortificada».
Com um vasto património de arquitectura religiosa e vestígios histórico-monumentais, a origem da vila de Óbidos remonta ao século I, à cidade de
Eburobrittium. Romanos, visigodos e árabes foram povos que marcaram presença por estas paragens.
Como porto de mar, Óbidos deve ter chamado a atenção dos vários povos cujo domínio sucessivamente se exerceu no ocidente da Península; no decurso desses sucessos, os Romanos decerto, e com certeza os invasores muçulmanos, a fortificaram. Não falta mesmo quem veja em certas parcelas ainda existentes uma feição mourisca. De resto, pode intuir-se a resistência que se crê ter aí encontrado a hoste de D. Afonso Henriques, quando em 1148, após a conquista de Santarém e Lisboa, o nosso primeiro Rei lançou-se na tarefa de apossar-se de toda a região vizinha.
Os subsequentes progressos construtivos dessas fortificações acompanharam de algum modo os sucessos da história local.

Em carta foral de 1153 há referência no castelo de Óbidos; e do reinado seguinte, o de D. Sancho I, resta o testemunho duma inscrição na Torre do Facho que alude a obras então realizadas. Rodaram os anos, e, volvido um século, eis que Óbidos enfileira entre as terras que, leais ao deposto D. Sancho II, se negaram a reconhecer autoridade ao Conde de Bolonha, futuro D. Afonso III, resistindo em 1246 sem desfalecimentos, vitoriosamente, nos ataques que contra a vila e o castelo moveram as hostes afonsinas, e dando assim notável exemplo de indefectível lealdade, que o próprio regente, tornado Rei, veio a reconhecer, e mesmo a homenagear.

Essa possibilidade de invencível resistência mostra que já então Óbidos era povoação muralhada, situação perfeitamente harmónica com a sua importância e desenvolvimento demográfico, não só porque – embora seja desconhecido o seu foral antigo – há documento de 1254 que a mostra em pleno desenvolvimento municipal, mas também por saber-se que em 1259 já ali estavam edificados quatro templos. De D. Dinis, monarca restaurador de tantos castelos, há notícias da sua acção no de Óbidos.
No tempo de D. Fernando, uma lápide recorda a construção, em 1375, da grande torre geralmente considerada de menagem, devendo todavia observar-se o que a respeito desta sua função opinou um erudito historiador militar, o falecido coronel Costa Veiga, o qual, a propósito de certa descrição do castelo de Lanhoso, entendeu oportuno aludir a torre de menagem do de Óbidos, escrevendo o seguinte; «A torre referida (de Lanhoso) é, sem dúvida, a de menagem, pois nos aparece com as características essenciais: base maciça e sobrelevada de alguns metros, com porta à qual se sobe do terrapleno interno por uma escada de madeira. Essas características, cumpre dize-lo, observam-se igualmente na de D. Dinis, do castelo de Óbidos, que julgamos haver sido primitivamente a de menagem, e não a de D. Fernando».

Quando nos fins do século XIV se abriu a crise dinástica que elevou ao trono o Mestre de Avis, D. João, era alcaide-mor do castelo de Óbidos um Fidalgo chamado João Gonçalves, que por exagerado sentimento de lealdade à filha do falecido monarca, a infanta D. Beatriz, herdeira do trono, se colocou ao serviço do rei de Castela, seu marido, e veio a morrer na batalha de Aljubarrota.
No tempo de D. João II andou Óbidos muito falado na Corte, e é presumível que o castelo algo beneficiasse com isso. Realmente foi essa a terra escolhida pela rainha D. Leonor para acalento de sua mágoa após a desastrosa morte de seu filho único, o príncipe D. Afonso, e os banhos termais de Óbidos foram confrontados com os de Monchique em 1494 para tratamento do monarca, então em curso da doença que lhe veio a ser fatal.
Quanto a D, Manuel I, que deu a Óbidos foral novo em 1513, não há, porém, duvida de ter ordenado a realização de alguns melhoramentos no castelo, pois destes ficou testemunho material claramente expressivo.

Depois disso, atravessando os séculos sem casos de guerra que se inserissem na sua história, o castelo de Óbidos, já desprovido de eficiência militar, mas ainda bem conservado, teve-os todavia nas suas vizinhanças por ocasião das Invasões Francesas, quando, em 1808, o exército de Junot, primeiro invasor, se viu hostilizado pela sublevação das populações e combatido pelas forças militares anglo-lusas, pois nas proximidades da via se travaram as escaramuças que preludiaram a derrota dos franceses na batalha da Roliça, também ali próxima.
Vila de Óbidos fez parte do dote de inúmeras rainhas de Portugal, foi local de preferência para descanso ou refúgio das desavenças da Corte.
A extensa muralha do Castelo de Óbidos, que recebeu a 16 de Fevereiro de 2007 o diploma de candidata como uma das sete maravilhas de Portugal, rodeia as casas caiadas de branco com cunhais pintados de azul ou amarelo ou de traços medievais que são o cartão-de-visita desta Vila tão acarinhada pelos seus habitantes e tão apreciada pelos milhares de turistas que por aqui passam.
Bem hajam 
Carlos Fernandes 



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