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sábado, 25 de janeiro de 2014

A Alheira de Mirandela

A Alheira surgiu nos finais do século XV ( Casa da Cultura do Conselho de Mirandela).
Teve como causa próxima do seu aparecimento uma acção político-económica do rei D. Manuel definida pela expulsão dos judeus do país (Martins, 1983; Fernandes, 1986; Casa da Cultura do Concelho de Mirandela 1988).
Que os judeus ricos ficassem na sua Pátria, e mesmo praticando a lei de Moisés, que o fizessem. Desde que, claro está, pagassem as volumosas contribuições para o caso expressamente estabelecidos e que assim os discriminavam ( Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
A isto muitos se sujeitaram, quer por interesse, quer mesmo por amor á terra que os vira nascer, se bem que outros menos conformistas, e ainda que vendo-se espoliados de substancial naco dos seus bens se fossem de abalada para as terras da Itália, da França e da Flandres, levando consigo apenas sobras do estorpulado mas toda a sua rica cultura (Casa da Cultura de Mirandela, 1988).
Mas e os pobres? E os Judeus pobres também os havia? Sem posses para pagar nem para tentar mudança de vida na estranja, outro remédio não tinham senão deixar encharcar a cabeça com as águas do Baptismo, aprender o Credo e o Padre-Nosso e reverentemente passarem a recitá-los, a maior parte das vezes com duvidosa convicção, nas sombrias naves das Igrjas Cristãs. E assim nasceram os Cristãos Novos( Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Mas, ou porque sentissem de perto o frio do cárcere ou o calor das chamas do Santo Ofício, aos poucos, com os seus familiares e teres, e foram os pobres filhos de Israel escapulindo de cidades e vilas, buscando a segurança e calma que o frio torna em solidão, em terras para além do Marão (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Não paravam, no entanto, os esbirros da Inquisição que infiltrando-se nos quais pequenos e distantes lugarejos transmontanos, secretamente procuravam saber quem não trabalhava ao Sábado, quem não comia peixe sem escama nem carne de porco (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Muitos Judeus houve que descobriram no fabrico das alheiras uma forma de enganar os perseguidores ( Martins, 1983; Fernandes, 1986; Conceição, 1995).
Começaram a aparecer no cimo das confortantes braseiras que amenizavam o rigor das invernias daquelas frígidas terras, uns doirados e roliços enchidos, parecendo ressumar farta gordura de cervo recentemente abatido, que, por entre ténues cortinas de fumaça se enfileiravam em ar de abastança (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988 ).
E os políticos e delatores miravam a luzidia comida, tocavam a sua untuosidade, e acabavam muitas vezes por se empanturrar de comum com os visitado, por entre nacos de pão centeio e camadas de vinho da última colheita, assim terminado por concluir que homem que come daquele enchido de porco, Judeu não é mas Cristão e dos bons(Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Os perseguidos Cristão Novos em lugar de meter na tripa seca a carne do animal que a lei mosaica vedava, antes usavam a gorda galinha criada no seu terreiro, o fugidio coelho do mato, a anafada perdiz, tudo amassado no grosseiro mas gostoso pão da região, servindo de excipiente doirado azeite de vestutas Oliveiras e de condimento agressivo do alho Silvestre (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Mas os tempos passaram. E a alheira foi-se metamorfoseando. E venceu o porco. (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
A verdade é que com o decorrer dos tempos foi este animal quem melhor sabor começou a fornecer a este alimento (Martins, 1983; Fernandes, 1986; Conceição,1995).

Assim, hoje a alheira é um enchido essencialmente confeccionado com carne de cevado, nado e carinhosa mas interesseiramente criado no âmbito doméstico (casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Realmente a alheira é rigidamente um manjar transmontano e no paladar apenas difere um pouco de casa para casa, de família para família que lhe fica vizinha, donde a estimulante competitividade que leva convicta e vigorosamente a afirmar sempre que a “minha alheira é melhor do que a tua” (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
O costume alastrou por toda a região e a fama das alheiras tornou-se conhecida em todo o país, e os pedidos deste produto passaram a ser muitos. As populações transmontanas, para os satisfazerem, traziam as alheiras á estação do comboio mais próxima, que era Mirandela.
Deste modo, as alheiras que chegavam a todo o país tornaram-se famosas e passaram a ser conhecidas como Alheira de Mirandela .
O espírito empreendedor das gentes de Mirandela levou a que o fabrico e a comercialização da alheira se desenvolvesse em torno da sua cidade, mantendo reservado o seu saber fazer local

As matérias-primas utilizadas na sua confecção e o processo de fabrico muito próprio, que inclui a tradicional fumagem com a lenha seca e compacta das árvores que se desenvolvem nas particulares condições endafo-climáticas da região, conferem á Alheira de Mirandela características organolépticas únicas.
A notoriedade, consequência das características únicas e muito apreciadas da Alheira de Mirandela , fez com que este produto atingisse a reputação de que goza hoje em dia. E também porque são de facto as Alheiras de Mirandela que continuam a fazer perdurar o sabor original deste enchido.

Fotos : Raul Coelho 
Bem hajam 
Carlos Fernandes 

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