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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A Burka o Cloque e o Bióco por terras de Algarve



Há um Algarve que todos conhecem e um outro que só se deixa desvendar por quem entra porta adentro, disposto a deixar-se interpelar pela beleza de cada monumento, sítio arqueológico, igreja e museu estórias de encantar. É este último Algarve que convocamos para esta publicação, onde mergulhamos nos séculos para ouvir as histórias que o património cultural tem para nos contar.


Raul Brandão escreve a propósito do biuco no seu livro "Os Pescadores", em 1922:

" Ainda há pouco tempo todas (as mulheres de Olhão) usavam cloques e bioco. O capote, muito amplo e atirado com elegância sobre a cabeça, tornava-as impenetráveis.

É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos. Mas o lume do olhar, mais vivo no rebuço, tem outro realce... Desaparecem e deixam-nos cismáticos.

Ao longe, no lajedo da rua ouve-se ainda o cloque-cloque do calçado - e já o fantasma se esvaiu, deixando-nos uma impressão de mistério e sonho. é uma mulher esplêndida que vai para uma aventura de amor? De quem são aqueles olhos que ferem lume?... Fitou-nos, sumiu-se, e ainda - perdida para sempre a figura -, ainda o som chama por nós baixinho, muito ao longe-cloque..."

Trata-se de uma capa que cobre inteiramente quem a usava. A cabeça era oculta pelo próprio cabeção ou por um rebuço feito por qualquer xaile, lenço ou mantilha. As mulheres embiocadas pareciam “ursos com cabeça de elefante”



Oficialmente a sua extinção ocorreu em 1882 e por ordem de Júlio Lourenço Pinto, então Governador Civil do Algarve, foi proibido nas ruas e templos, embora continuasse a ser usado em Olhão até aos anos 30 do século XX em que foram vistos os últimos biocos.“É proibido nas ruas e templos de todas as povoações deste distrito o uso dos chamados rebuços ou biocos de que as mulheres se servem escondendo o rosto”, refere o artigo 32, do Regulamento Policial do distrito, publicado a 6 de Setembro de 1892.

                                                
Hoje mais que uma memória bem guardada, parte integrante da identidade local é e será fonte de inspiração para as gerações vindouras                      .
Bem hajam                                                                                           
Carlos Fernandes                                                                                    

                  


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