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sábado, 29 de março de 2014

Carreira 1960 "Que vida boa era a de Lisboa " (Capitulo III )

Bordel de luxo Madame Blanche 
(Continuação)
Depois da tempestade a bonança,Lisboa fervilha de novas emoções, a Feira Popular abre portas em 1962,  para contentamento das suas gentes,serão os concursos de mini-saia, as rainhas da rádio, os combates de boxe , onde Belarmino seria o rei, iriam ser o tema de todas as conversas dos alfacinhas . Também a outra Lisboa boémia marginal e escondida, continuava em ascensão. Carreira 1960 destino a Lisboa do pecado !!
Esquinas becos e ruelas 
Não , não eram praxes , à época ,o ritual de iniciação na vida adulta, passava pelo baptismo, a que a rapaziada, mais nova era sujeita pelos amigos , familiares mais velhos, numa só frase a ida" ás meninas "..Assim um dos destinos era o primeiro andar do número 63 da Rua da Glória, onde moram criaturas que nem imaginam a reminiscência do local.O bordel da Madame Blanche com fama de ser perito em prazeres capazes de ressuscitar impotentes. Todavia, em dias de frágil imunidade, também punha homens a caminho da farmácia para comprar frascos da descoberta de Fleming, que vida boa era de Lisboa .
Salazar que não entendia de penicilina, obrigava as "meninas"a ir ao governo civil para testar a saúde .
Pressionado, pela igreja pelos brandos costumes,a 19 de Dezembro de 1962 o decreto de lei nº 44579 proíbe a prostituição .escusado será dizer que "Nunca saiu do papel ", pelo contrário teve o efeito inverso, pois como diz o aforismo "fruto proibido é mais apetecido".
No fundo o Antigo Regime, considerava a depravação útil para escudar a moral . Sempre a bem da Nação, um homem que ia às "meninas" não andava a desonrar donzelas, e não desviava casada para o travesseiro alheio. Sempre assim foi, quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga,"esquentamentos", cancros moles, pediculose pública, sífilis, mas para a frente," é que é Lisboa" e isso nunca matou ninguém .
A bem da moral
Felicidade no Bairro Alto, um destino, a rota prometida, o chamado na gíria "Bairro do Bife " antigo epicentro da depravação e prazer.O nª 142 da Rua do Diário de Noticias, e o nª 5 da rua da Barroca ou o 8 da Travessa Água Flor, entre a década de 60 e finais do anos 70, metamorfosearam  tansos em potentes felizes, que vida boa era a de Lisboa. Dessa felicidade não sobrou um tijolo,já o mesmo não se poderá dizer do famoso 100 da vetusta rua do Mundo , hoje Rua da Misericórdia.
O séquito Salazarista adorava a corte prostituta.Ministros , secretários conselheiros de estado, eram personagens assíduas, no bordel mais afamado da capital "Madame Calado", casa fina e afamada , situada numa rampa ao lado da estação do Rossio, oferecia moçoilas da província (Beiras e Norte) sem vícios e com muito amor para dar, apregoava a madrinha Calado,como cabeça de cartaz pela primeira vez em Portugal, Bia uma açoreana de cara redonda, cabelo ruivo, peitos cheios, pernas torneadas e traseiro avantajado, um sucesso , um Monumento!!!
Mas enganem-se os mais cépticos, o mercado era diversificado, para os de menos posses , havia sempre a possibilidade de uma visita à casa da Ilda, bordel baratucho que apesar de não ter grandes monumentos , tinha mulheres disponíveis, também ele de bom acesso , paredes meias com a Igreja de São Roque, que vida boa era de Lisboa . Para aquelas que já tinham atingido a emancipação, as esquinas, ruelas e becos eram o cenário, desde a parte sul da Avenida da Liberdade, Cais Sodré , Técnico , Intendente ,Rua da Betesga etc,,,  eram mercados em ascensão .
Bordel Madame Calado 
Desde doutores, ministros, operários, mangas de alpaca, todos se cruzavam na mesma noite , nos mesmos lugares,deleitavam-se com as mesmas mulheres,e todos estavam conscientes, que os prazeres do sexo tinham um custo , que poderiam ir dos vinte cinco escudos aos quinhentos escudos .
Pastelaria Suiça-Rossio
No que à homossexualidade dizia respeito,oficialmente não se podia ser . No discurso nem existia .Mas na prática era comum. Quer para o povo,assíduo nos urinóis, estações e docas, preso e humilhado pela policia : quer para as elites sociais e culturais que viviam a sua sexualidade numa tolerância envergonhada.
Além do mundo dos salões da classe alta, os intelectuais, no inicio dos anos 60,começam a viver a sua homossexualidade com mais naturalidade. São pontos de encontro, a cervejaria Reimar na  Rua do Telhal onde se misturava a elite e o povo homossexual .Também cafés como o Monte Carlo , Monumental,o Tony dos Bifes a Pastelaria Paraíso, na Avenida Alexandre Herculano, a Suiça , Brasileira no Chiado são locais de encontro.
Príncipe Real -Lisboa 
Quanto a lugares mais recatados, e de encontro nocturno,mais frequentados são o Bar Z no Príncipe Real onde hoje é o Harry`s, O Barbarella na Rua da Atalaia , o Insólito o Antiquário, e as célebres matinés para lésbicas do Gato Preto Gato verde, hoje Memorial , um pouco mais tarde abria o Bric a Brac, a catedral dos homossexuais, que rica vida era a de Lisboa .
É da época o denominado pelas gentes do norte, o Passarinho do Rio, a Bernardete para os alfacinhas , aristocrata com lugar seguro na Avenida da Liberdade, com fama de ter dormido com o maior numero de homens que havia memória, personagem frequente nos urinóis do Rossio.
Cais Sodré -Lisboa 1960
     Bem Hajam
Carlos Fernandes

quarta-feira, 26 de março de 2014

Carreira 1960 " Que vida boa era a de Lisboa" (Capitulo II)

Rossio 1960
(Continuação)
Depois de um inicio de década auspicioso, como referimos anteriormente , aproximava-se o ano  de todos os perigos.,(1961) para o regime Salazarista, vindo a revelar-se o annus horribilis do ditador .
Logo no inicio do ano, tem lugar um levantamento de trabalhadores da Cotonang protestando contra as condições de trabalho da companhia algodoeira. Os protestos são imediatamente reprimidos pelo exército português,mas anunciam o começo da luta armada da libertação de Angola, marcada pelo ataque à cadeia de S,Paulo em Luanda a 4 de Fevereiro e pelo levantamento armado .

Diário de Lisboa


Marginal de Luanda 1961
A 22 de Janeiro, elementos, do Directório Revolucionário Ibérico de Libertação, apoderam-se do Paquete Santa Maria,da Companhia Colonial de Navegação, que rebaptizam de Santa Liberdade, conseguindo uma notoriedade, e uma cobertura internacional que viria abalar profundamente o regime .


Paquete Santa Maria rebaptizado
Em Abril, a crise vem, não da oposição, mas do interior do regime, através da tentativa de golpe liderada pelo Ministro da Defesa, Júlio Botelho Moniz.
Em Junho, cerca de cem estudantes oriundos das colónias portuguesas em África que se encontram em Portugal abandonam clandestinamente o país, muitos deles para se juntarem aos movimentos de libertação.
A abolição do Estatuto do Indigenato, associado a outras reformas, em Setembro, chega demasiado tarde para travar a acção dos movimentos de libertação das colónias, entretanto reunidos na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, CONCP.
A 10 de Novembro, Hermínio da Palma Inácio comanda o desvio do Super-Constellation da TAP Mouzinho de Albuquerque, a fim de lançar sobre Lisboa milhares de panfletos apelando à revolta contra a ditadura.
A 18 de Dezembro, tropas da União Indiana ocupam os territórios de Goa, Damão e Diu. Salazar ordena que as tropas portuguesas lutem até à última gota de sangue, mas o governador, general Vassalo e Silva, recusa-se a obedecer à ordem do Presidente do Conselho e opta pela rendição.
E, na noite de fim de ano, uma tentativa frustrada de assalto ao quartel de Infantaria 3, em Beja, leva à morte do então sub-secretário de Estado do Exército, tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca.


Rendição da tropas portuguesas Panjim

Jornais da época
(Continua)
Bem hajam 
Carlos Fernandes 

sábado, 22 de março de 2014

Vinho uma arte e um caminho


Hoje, mais que nunca, o vinho continua a desempenhar um papel fundamental na economia portuguesa, com exportações superiores a 700 milhões de euros .
Hoje cerca de 70% dos nossos vinhos são certificados o que mostra o salto qualitativo da produção.A aposta na qualidade tem tido resultados visíveis no aumento das exportações que nos últimos dez anos cresceram 20%.
O vinho é uma fileira integralmente nacional , da matéria prima às rolhas passando pelas garrafas e acabando nos rótulos. Sabemos que há muitos investidores estrangeiros interessados em entrar em Portugal .Não só para comprar vinho, mas para comprar quintas e herdades e passar de importadores a produtores. E vêm da China , do Brasil e Angola. Depois do sol e mar , o vinho é um mar de oportunidades.
Diz-se que um rótulo é a arte de contar histórias num quadrado, são também a cara de um vinho e têm uma influência determinante na escolha do consumidor.
Eis alguns exemplos:
Sogrape: Papa Figos 2011.Um vinho baptizado com o nome de um pássaro que se avista no Douro superior concretamente junto à Ribeira de Aguiar na Quinta da Leda entre Abril e Outubro 


Sociedade dos Vinhos Borges : começou por ser o nome da terra de origem  das uvas , até que estas se tornaram insuficientes para manter o nome e uvas de outras regiões .O produtor foi obrigado a usar a imagem de um gato
Ervideira :Um puro sangue lusitano representa este vinho que, tal como o cavalo , já foi premiado com diversas medalhas uma referência inequívoca a um produto nacional único.

Herdade do Esporão:Os rótulos dos reserva e private selection são de autor , uma ideia original para promover artistas portugueses
 
Pinhal da Torre: Uma homenagem a uma espécie tipicamente portuguesa e característica da região de origem .Fernão Pires - A poupa é uma ave exótica , hoje disseminada em toda a bacia do Tejo 

  • A.ruralidades : sugere uma visita 




 
Alenquer ,uma taberna de charme .Chama-se Taberna do Chapéu Alto e pretende recuperar o prazer da tertúlia à volta de um bom copo de vinho e de petiscos caseiros,o Chapéu Alto tem esplanada a dar para o Largo da câmara Municipal de Alenquer .
  • Bem hajam 
  • Carlos Fernandes

sexta-feira, 21 de março de 2014

Carreira 1960 "Que vida boa era a de Lisboa " ( Capitulo I)

Cinema Monumental 

Café Monumental
Num país conservador, cinzento e pouco culto, iniciou-se uma revolução a nível cultural, uma nova mentalidade nascia  . Isto aconteceu devido ao fluxo de turistas que por Portugal passavam, o que fez com que a população contactasse com outras realidades.  São todos estes acontecimentos que marcaram a minha geração, que a carreira 1960 vos propõe , uma viagem , um roteiro à Lisboa da época , focado nas pequenas coisas , que iriam decididamente formatar uma geração .
Antes de iniciarmos a nossa viagem , observemos  alguns dados : Mais de 82 % dos partos ocorrem em casa .Morrem 7,7 crianças por cada 100 habitantes .8,9 Milhões de residentes, 92% com menos de 65 anos .Esperança de vida :  mulheres 66,4 anos , homens 60,7 anos .Mais de 65% das pessoas com 15 ou mais anos nunca foram à escola .População com instrução equivalente ao ensino superior 1%.Apenas 9,3% dos casamentos não são católicos .Um em cada cem acaba em divórcio .80 médicos e 108 enfermeiros por cem mil habitantes .
Perante estes dados, sem saudosismos e mágoas apanhemos a carreira 1960, destino Lisboa .
Carreira 1960 Lisboa 
Começava a década e Lisboa estava em festa , sentia-se no ar um novo tempo , os alfacinhas ainda festejavam , o ora aí vamos , oito minutos do Restauradores a Entre Campos , era obra !!
A 29 de Dezembro de 1959 foi inaugurada a primeira linha de Metropolitano de Lisboa , sendo aberta ao público no dia seguinte, Lisboa alinhava-se com as grandes capitais Europeias.A adesão e a novidade levaram a que os lisboetas na manhã de 30 de Dezembro acorressem em massa às gares de Sete-rios e dos Restauradores para efectuarem a sua primeira viagem .Estava inaugurado o Metropolitano de Lisboa e só no primeiro ano foram transportados 15 milhões de passageiros .
Estação do Campo Pequeno 

Metro estação Saldanha 

Sem dúvida, os primeiros dias da nova década eram promissores ,o melhor ainda estava para vir .
As primeira boîtes , os dancings ,os concursos de mini-saias , as rainhas da rádio , a moda dos cafés , a música ié-ié , os bordéis , a guerra , a censura um ditador .Era tudo isto a vida de Lisboa na década de 60.



Até ao final da década de 50 os três grandes pontos de encontro dos lisboetas , eram o Parque Mayer , o Pavilhão dos Desportos e o Coliseu , em perfeita comunhão com os clubes recreativos e associações regionais, onde se realizavam grandes bailes , com a década de 60 , a bica os cigarros , aguardentes e afins , o whisky de Sacavém , as intermináveis  conversas até de madrugada, a que se apelidavam de tertúlias, após as horas de expediente e essencialmente ao fim de semana,a Lisboa dos anos 60, instala-se nos cafés. 
Num ambiente pesado , onde as névoas de fumo predominavam,na grande maioria homens de fato e gravata estreita, davam corpo a esta nova maneira de estar,na Brasileira, no Martinho , no café Gelo, ainda são locais habituais , mas com a perda de influência da baixa lisboeta, a grande moda eram as Avenida Novas,no Vá-Vá faz-se história no novo cinema português, das lutas estudantis e até dos costumes, com uma clientela feminina eram os primeiros passos da sua emancipação . No Monte Carlo ao Saldanha era ponto de encontro de toda a gente,a partir das duas da madrugada, eram jornalistas, gente do teatro depois das peças, em ameno convívio entre gerações de grande liberdade, e por ali permaneciam até às quatro .cinco da madrugada . Como estes cafés outros havia como são exemplos, o Café Londres , (Praça de Londres), Café Bocage (Av da Republica ),Café Monumental (Saldanha),Értilas (Campo de Ourique ) Café Império (Alameda) e tantos mais .
O Estado Novo permitia isto, aliás Salazar deu instruções à policia política (PIDE)para não incomodar as tertúlias, dizia o ditador"Revolucionários de café não fazem Revoluções ".


Café Gelo -Rossio
Café Monte Carlo-Saldanha 
Interior Café VÁ-VÁ 
Café A Brazileira -Chiado
A década de 60 foi, certamente , das mais importantes na história da economia portuguesa. Corresponde ao período em que a economia portuguesa cresceu mais rapidamente .
Os três grandes acontecimentos económicos,da década , são nomeadamente : o primeiro consiste na assinatura do acordo EFTA (Associação Europeia  de Comércio Livre), Portugal fica inserido numa rede de relações políticas que lhe é bastante favorável. Todavia, o que essencialmente beneficia são novos mercados onde o país ainda não tinha entrado, nomeadamente  o mercado Austríaco e os três mercados escandinavos . Por outro lado a entrada na EFTA trouxe importantes investimentos a Portugal: investimentos beduínos, como eram conhecidos os suecos, para a industria têxtil e de calçado, eram investimentos que exigiam capital fixo relativamente modesto , aproveitando a mão de obra barata.
Existiram ainda, investimentos mais sérios de médio e longo prazo , não só de escandinavos como de ingleses, nomeadamente em industrias mecânicas e químicas .

O segundo factor foi a emigração, não só para fugir à pobreza, como também à Guerra Colonial, numa década partem cerca de um milhão de habitantes,conseguem uma poupança altíssima, em alguns casos chega 50% do rendimento, que enviam como remessa para Portugal . A Banca expande-se para o interior , abre novos balcões , o dinheiro é barato com a abertura económica ao exterior levam ao nascimentos de nonas industrias como a CUF (Companhia União Fabril) a Siderurgia Nacional (seixal), a  fábrica da Toddy (Belas), o desenvolvimento da industria naval , tabacos têxteis , químicos e tantos outros , a economia cresce, ontem como hoje, as pessoas estão mal, mas Portugal está melhor .
Por último o negócio da construção civil arranca em força, irá explodir nas décadas seguintes, aumenta a urbanização das zonas rurais á volta de Lisboa . Em Lisboa  o valor dos salários quase que duplica, o consumo de televisores rádios e carros dispara, são os anos dourados .
Por esta altura (1961), abre o primeiro supermercado (Modelo) no Saldanha na mesma zona abrirá mais tarde o restaurante Galeto um símbolo de modernidade, que vida boa era a de Lisboa .


Sorefame Amadora 


Fábrica da CUF interior

Fábrica Toddy . Belas 
Siderurgia Nacional .Seixal 


Emigração anos 60
Bem hajam 
Carlos Fernandes                            (continua )  









terça-feira, 18 de março de 2014

O MASSACRE DO COLMEAL

O MASSACRE DO COLMEAL


O Massacre do Colmeal (Kolmenari em lingua lusitânica reconstruída) é uma das páginas mais negras da História da Lusitânia moderna sob jugo e ocupação portuguesa. Muito embora esta tragédia recente para o povo nativo Lusitano que habitava a aldeia do Colmeal (hoje aldeia fantasma mas que antes do massacre em 1956 tinha 14 famílias com no mínimo 60 habitantes e que também era sede de freguesia com 338 habitantes, englobava mais algumas aldeias menores como Bizarril, Luzelos e Milheiro, no concelho de Figueira da Castelo Rodrigo no distrito da Guarda) tenha acontecido a uma escala muito menor dos primeiros massacres perpetrados por portugueses e espanhóis mais os mercenários estrangeiros ao seu serviço que estão hoje na origem da maioria das elites locais portuguesas, quando estes nos primeiros tempos da "reconquista" cristã e (também) depois da fundação de Portucale (ou condado Portucalense, hoje Portugal) por uma elite astur-leonesa de sangue maioritariamente franco-germânico, e portanto de origem estrangeira, este cobarde crime e massacre português cometido durante o regime fascista português contra o nosso povo nativo lusitano (que na época dos acontecimentos foi censurado e silenciado por toda a comunicação social portuguesa, onde jornais e rádios nacionais e regionais nunca escreveram uma única linha sobre este crime), ele também indicia que outros crimes semelhantes terão ocorrido durante o fascismo e durante os últimos anos da monarquia portuguesa ou após as guerras que oposeram miguelistas contra "liberais", cujos vencedores "liberais" levaram depois a uma reforma administrativa que levou à extinção de centenas de concelhos na Lusitânia e noutras regiões de Portugal, contra a vontade das populações locais. Após a invenção de Portugal (ou a fundação do condado de Portucale por uma elite de origem estrangeira, cujas etapas teriam ocorrido em dois séculos diferentes) no século X quando os "cristãos" portugueses e espanhóis (cujos estados após a sua consolidação no plano económico e no terreno militar estão na formação e insticionalização de ambos estes dois "povos" elitistas) invadiram as terras a sul do rio Douro que embora sob administração militar muçulmana pertenciam aos povos nativos que teriam a pôsse das terras conseguidas graças a uma reforma agrária, após ferozes lutas, batalhas e guerras contra mouro-berberes islamizados que teriam o apoio dos lusitanos e de todos os outros povos nativos ibéricos, porque os conquistadores islâmicos ou islamizados teriam devolvido as terras aos povos nativos, tanto os estrangeiros portugueses como os espanhóis (astur-leoneses, castelhanos e elites galegas) teriam cometidos muitos massacres contra os nativos lusitanos durante a conquista das suas terras, não só do ponto de vista militar, como durante os tempos posteriores de imposição da nova "ordem" e das leis dos novos conquistadores portugueses que tará levado à expulsão das suas terras e casas que foram roubadas aos nativos lusitanos para serem entregues aos senhores feudais e mercenários estrangeiros que teriam recebido dos reis e da nobreza elitista portuguesa (toda ela de origem estrangeira e não nativa) a "doação" destas terras, hoje os descendentes dos primeiros senhores feudais e mercenários estrangeiros formam as diferentes elites locais portuguesas. E como é evidente em qualquer parte do mundo, quando um povo ou uma família é expulsa da sua própria terra e casa isso levará à sua resistência contra a injustiça cometida. Não surpreende pois que os primeiros estrangeiros portugueses que se estabeleceram na Lusitânia e nas terras a sul do rio Douro, tenham cometido inúmeros e grandes massacrados contra os povos nativos que defendiam as suas próprias terras. O facto de não haverem registos históriocos nem documentos oficiais portugueses a comprovarem estes massacres não invalida nem poderá negar a sua existência. Massacres como os do Colmeal contra o povo nativo Lusitano e contra os outros povos nativos de Portugal, cometidos pelas "autoridades" portuguesas de forma a defenderem as elites locais, terão sido centenas e não apenas algumas dezenas, evidentemente que a grande maioria terá ocorrido nos primeiros anos da ocupação portuguesa quando atravessaram a margem norte do rio douro e invadiram a Lusitânia e outras terras a sul.
A vida quase sempre decorreu calma e bucólica na isolada e recôndita aldeia do Colmeal, localizada num paradisíaco vale de difícil acesso nas faldas da Serra da Marofa. A pequena comunidade terá sido fundada por pastores lusitanos desde tempos pré-históricos, pré-romanos, pré-cristãos e pré-portugueses. A confirmar este facto local, existe um outro ponto de interesse junto á localidade e que apenas recentemente foi descoberto: as pinturas rupestres. Situam-se junto à povoação nos enormes penedos que ladeiam a ribeira do Colmeal e tratam-se de representações esquemáticas de antropomorfos, datando do 3º Milénio a.C., contudo, a história escrita da aldeia lusitana do Colmeal, a partir da ocupação portuguesa da Lusitânia, transporta-nos para tempos mais recentes, pelo menos ao século XII (1183 é a referência mais antiga que se conhece do local em documentos papais e leoneses antes da referência portuguesa, o rei de Leão D. Fernando II "doou" esta aldeia e outras à Ordem de S. Julião do Pereiro, que seriam por muito tempo sua proprietária). A história do Colmeal não se faz, no entanto, apenas de laboriosos camponeses. Esta é também uma terra de pergaminhos fidalgos da elite local portuguesa, já que aqui terá vivido Pedro Álvares Cabral, o famoso descobridor do Brasil. O “solar” brasonado da família, não obstante a ruína, ainda é visível em lugar de destaque na aldeia. Após o Tratado de Alcanizes, os bens desta Ordem passam para a Ordem de Alcântara, em 1297, e as terras de Riba Côa são integradas na Coroa Portuguesa. As disputas com os espanhóis despovoaram os lugares da serra, e D.Afonso V deu-lhe carta de Couto - terra que não pagava impostos por pertencer a um nobre, com o nome de Colmeal das Donas em 1540. Era senhorio deste povo João Gouveia. Com a morte deste fidalgo o Colmeal das Donas passa a pertencer a Vasco Fernandes de Gouveia (1476), e, com a morte deste, a Fernão Álvares Cabral e D.Isabel de Gouveia. Pais de Pedro Álvares Cabral. Mudanças sucessivas levaram a que a burguesia endinheirada, saída da República, se fosse apoderando dos domínios da nobreza. Os Condes de Belmonte não escaparam e venderam o foro do Colmeal das Donas. Os novos proprietários e as novas elites locais mantinham direitos que remontavam ao tempo das sesmarias, ao mesmo tempo que lavravam à pressa escrituras e delimitavam terrenos. As gentes do Colmeal, os nativos de sempre, por sua vez, habituadas à servidão, continuavam a pagar foro. Desta feita, aos feitores dos novos senhorios. O triste fado da aldeia foi ditado no início da década de 40 com a chegada de um novo rendeiro, que subia as rendas a seu bel-prazer. Valores que atingiram níveis quase impossíveis de suportar. Durante anos os habitantes "mataram-se" a trabalhar para pagar as rendas. Muitos dos ainda sobreviventes desse tempo recordam esses tempos sem saudade, mas lá vão dizendo que, embora as terras «fossem más», «uns lavravam, outros tinham cabras, outros tinham vacas», e a agricultura lá ia dando para viver e pagar aos rendeiros. Mas cada vez mais revoltados com a situação, os habitantes do Colmeal recusaram-se a pagar e, como resultado, tiveram de travar uma longa batalha jurídica que de nada lhes valeu. O processo começou com a acção de despejo para o caseiro da casa dos Cabrais, acusado de deixar de pagar renda ao senhorio, mas anos depois os aldeões passaram à categoria de subarrendatários do mesmo e tratados de igual modo. Por altura das colheitas dois oficiais da justiça chegaram com a sentença final. Mais 25 soldados da GNR fascista. E uma acção de despejo. Estava-se no dia 8 de Julho de 1957.
Em 1527 no primeiro censo oficial a aldeia teria 15 moradores oficiais, não contando com os camponeses e pastores das áreas envolventes nos arredores. No século XVII a aldeia teria 50 habitantes, no início do século XVII teria 80, no século XIX teria 90 habitantes. No início do século XX, inverterá contudo a sua tendência populacional, em 1940 teria só 62 habitantes pertencentes a 14 famílias distribuídas por 12 fogos ou residências. Se é verdade, como já referimos, que inicialmente a posse do Colmeal pertenceu à Ordem Militar de Cavalaria de São Julião do Pereiro, sabe-se, igualmente, que séculos mais tarde o senhorio da povoação passou para as mãos da família dos Cabrais, da Casa de Belmonte. O avô materno de Pedro Álvares Cabral, Vasco Fernandes de Gouveia, possuía mesmo o título de Senhor do Colmeal e, durante gerações, a presença dos donatários e seus familiares seria constante no “solar” dos Cabrais existente na povoação. Não é, por isso, difícil de acreditar que o famoso navegante aqui também tenha residido. Não há, no entanto, qualquer prova quanto à possibilidade desta personalidade aqui ter nascido, como defende alguma da tradição oral na região. A historiografia oficial refere, de resto, que terá nascido em Belmonte entre 1460 e 1470. Foi D. Afonso V quem deu-lhe carta de Couto em 1540, era senhor desse povo João Gouveia. Com a morte do fidalgo andou aquela terra de senhor para senhor até acabar nas mãos de Pedro Álvares Cabral. Curiosamente terá sido também por essa altura que é construída a igreja do Colmeal. Da presença dos Cabrais (ou de outros pretendentes e senhores feudais vindos de outras paragens que trocavam ou compravam o feudo, só o povo nativo era local) na aldeia ficou o seu “solar” e o brasão, lavrado numa pedra avermelhada, representando duas cabras. A presença desta família e dos seus símbolos terá sido tão marcante que, sintomaticamente, a lenda que explica a origem da aldeia recorre de uma forma frequente a elementos que se relacionam de forma inegável com os Cabrais e a sua pedra de armas esculpida na aldeia. Para os portugueses e as autoridades, a aldeia foi apenas um feudo da elite local portuguesa, dos Cabrais, porque os seus habitantes mais pobres, camponeses e analfabetos, não tinham história nem direitos, eram pouco mais do que escravos do trabalho, do tempo e da injustiça de um país ainda hoje (no século XXI) medieval e feudalista. E só este facto histórico-social interfere com a existência que tem tanto de milenária como de comunitária, patorial, camponesa e despretensiosa do povo local. Até ao dia em que as "autoridades" portuguesas ao serviço duma elite local, condenaram a povoação e os seus habitantes à morte. A paz, as tradições, o silêncio e a tranquilidade em que vivem os seus habitantes estáva prestes a desaparecer, brutalmente...
O princípio do fim da aldeia do Colmeal, que daria origem à destruição da aldeia, às expulsão dos aldeões das suas casas e terras e ao massacre com algumas dezenas de mortes dos seus habitantes nativos mais resistentes contra a injustiça portuguesa tivera início já antes de 1956. Mas a 8 de Julho de 1957, eram pouco mais das dez horas da manhã, um destacamento da Guarda Nacional Republicana (GNR) composto por 25 praças e 3 oficiais (um militar para cada dois habitantes, isto só podia acontecer se toda a aldeia resistisse e estivésse a lutar pelas suas casas e terras) decididos e fortemente armados (os aldeões, pastores e camponeses inocentes não tinham armas) com metralhadoras e preparados para o pior cenário, irrompem pela aldeia e, em poucas horas, surpreende e expulsa as 14 famílias de cerca de 60 aldeões e camponeses pobres que ali viviam, descendentes de gerações e gerações de lavradores e pastores que desde sempre, desde tempos lomngínquos e pré-históricos tal como os seus ancestrais mais antigos, aí viveram, habitaram, trabalharam e morreram, naturalmente. Nada impediu as autoridades de rebentarem com as portas das casas e levarem os poucos haveres desta gente simples que se refugiou na maioria nos montes e aldeias em redor. Os populares não aceitaram e a GNR viu-se obrigada a intervir para expulsar os resistentes no dia 10 de Julho de 1957. Segundo os populares houve casas queimadas e registaram-se mesmo alguns mortos entre os populares da localidade. Foi a primeira vez que tal sucedeu em Portugal, uma população ser expulsa colectivamente do de uma localidade inteira. Da localidade restam as casas que se encontram abandonadas. Inclusive, na velha igreja quinhentista, se baptizaram, casaram e enterraram. Uma mais que discutível e injusta decisão judicial, só possível sob o autoritarismo do regime fascista de então e pela impunidade de uma elite local, transformava o Colmeal numa aldeia fantasma. E toda a povoação desapareceu. E a maioria dos seus habitantes fugiu e refugiou-se nas aldeias vizinhas ao cobarde massacre perpretado pelas autoridades portuguesas. Hoje, só as ruínas patrimoniais e a memória colectiva das gentes, dos poucos habitantes ainda sobreviventes e dos lugares resiste, ainda e sempre, ao invasor. Para nos contarem o pouco que se conhece. Para que o massacre nunca seja esquecido pelas gerações vindouras, para que o silêncio nunca nos esmague.
Como foi possível acontecer? Como foi possível na segunda metade do século XX, em plena Europa e num país europeu, como Portugal, acontecer um Massacre contra um povo nativo, inocente e indefeso como este? Cerca de cinquenta anos depois a interrogação (a vergonha para as elites tugas e a indignação para o povo nativo lusitano) continua a incomodar os sobreviventes deste dramático acontecimento ou "episódio" ocorrido em Portugal, mais exactamente no interior da região da Lusitânia amordaçada. ainda hoje o povo nativo Lusitano mais consciente da sua verdadeira identidade étnico-cultural lusitana e não portuguesa, espera um pedido de desculpas das autoridades e dos governantes portugueses, em vão... Como é possível alguém ser expulso da sua terra, da terra onde nasceram e viveram os pais, os avós, os trisavós, os seus directos ancestrais mais antigos vindos de tempos pré-históricos que já habitavam este lugar antes do aparecimento dos portugueses... Alguns deles, de resto, enterrados no cemitério que se desenvolve em torno da igreja paroquial, também ela bem no centro na aldeia. Como foi possível um particular (membro duma elite local tuga) reivindicar para si a posse de uma antiquíssima e histórica aldeia que albergou sucessivas gerações de pastores e camponeses? Reivindicar a posse dos terrenos que a circundavam, ainda se poderá compreender. Mas a aldeia!? Uma aldeia antiquíssima que existia há séculos e que era, de resto, sede de freguesia... Reivindicar a posse de uma povoação, das suas casas, ruas, do cemitério e da velha igreja edificada há mais de quinhentos anos, é de facto incompreensível nos dias de hoje. Mas não o foi, durante o regime autoritário, ditatorial e fascista de Salazar, há menos de cinquenta anos.
Um pouco sobre as causas da história. Os factos remontam aos anos iniciais do século XX antes dos anos '40 do século XX, quando um novo "feitor" anunciava já a desgraça, que afinal a aldeia já não era foro mas que pagavam renda. E todos passavam a andar endividados. Porque o feitor subarrendatário não pagava a renda há quatro anos àquela que era, de acordo com uma escritura de 1912, à nova e legítima proprietária dos terrenos dos herdeiros dos condes de Belmonte. A colheita mal dava para comer quanto mais pagar ao arrendário: eram impostos da burra, dos cães e da carroça dos machos, masi a côngrua, um alqueire de trigo... Com efeito, em meados dos anos ’50 do século XX, começa a construção da tramóia, Rosa Cunha e Silva a nova herdeira das terras onde se situava a aldeia, queria-se dona de todo o Colmeal, e sob o pretexto de que os habitantes do Colmeal, ao contrário do que até então haviam feito, se recusavam agora a pagar os foros e rendas devidos pelos trabalhos agrícolas que aí desenvolviam, moveu um processo judicial contra aquela comunidade. E foi consultar o seu advogado, um burguês "opositor" do regime com passado, um "socialista" que entre os seus vícios burgueses e hipócritas meditava em "part-time" nos dramas dos pobres, Manuel Vilhena, que baralhou as leis e transformou a povoação anterior à nacionalidade numa quinta privada. O pleito correu durante três anos no Tribunal de Figueira de Castelo Rodrigo. Analfabetos na sua esmagadora maioria, incapazes de perceber verdadeiramente o que estava em causa (afinal não era a “sua” aldeia?), impossibilitados de se socorrer de bons advogados, os pouco mais de cinquenta habitantes do Colmeal são obrigados, por ordem judicial, a ser expulsos da sua terra. O mandato de despejo é rapidamente e em força posto em pratica pela Guarda Nacional Republicana com 28 militares armados até aos dentes às coronhadas e aos tiros que, em poucas horas, forçou a saída dos habitantes das suas casas dando-lhes apenas tempo para reunirem os seus poucos e parcos haveres. Mas houve muitos que resistiram contra a injustiça de lhes quererem roubar a sua aldeia, as suas terras, as suas casas, a sua família, a sua história, as suas vidas... E pagaram por isso. Foram assassinados e esquecidos pelo poder instalado em Portugal.
Durante os anos seguintes, após a expulsão e o massacre, a muito custo, a maioria dos antigos habitantes do Colmeal foram refazendo a sua vida. Uns emigraram para o estrangeiro (Brasil e França) ou para as grandes cidades do litoral português como Porto e Lisboa. Outros optaram por permanecer no concelho, nomeadamente noutros lugares da freguesia como Luzelos e Bizarril (onde hoje se encontra a Junta de Freguesia, a igreja paroquial e o novo cemitério). A pergunta, essa no entanto, persiste: como foi possível ter acontecido tudo isto? Estranhamente, ou talvez não, ou talvez sintomaticamente, quando entra no jogo toda a especulação imobiliária e financeira envolvente, a alterarem, a baralharem e a deturparem ainda mais as "regras" do jogo, a história deste episódio judicial teve um curioso desenlace. A dona e senhora, agora única, do Colmeal acabou por ter que vender, como forma de pagamento, estes seus domínios ao próprio advogado do diabo! Um de tal elitista local com o nome de Manuel Vilhena. Hoje o Colmeal não passa de uma grande quinta agrícola que engloba a arruinada aldeia fantasma, coberta de vegetação, e na qual se destaca a velha igreja medieval, dedicada a S. Miguel, que vem sendo objecto de contínuos e profundos atentados ao longo dos anos tendo-se transformando, também ela, numa triste ruína.
Ainda hoje considerado sede de freguesia (a freguesia devido à desetificação humana das terras do interior patrocinada por sucessivos governos anti-regionalistas e anti-populares portugueses tem hoje apenas 58 habitantes distribuídos por 4 aldeias, mas a do Colmeal tem 0 habitante), o Colmeal foi, por despacho governamental datado de 1985, elevado ao estatuto de Imóvel Classificado. De nada lhe valeu. O saque e as delapidações ao património edificado (nomeadamente à igreja) prosseguiram. Só a decadência e a ruína acompanham o silêncio absoluto e sepulcral que se vive neste bucólico vale encaixado no sopé da Serra da Marofa. Mas nem sempre foi assim. Apesar de nunca ter sido uma grande aldeia, o Colmeal conviveu durante séculos e milénios com os gritos das crianças, o ruído dos carros de bois, o bulício da deslocação dos rebanhos e os tradicionais cantares dos homens e mulheres envolvidos nos trabalhos agrícolas e tradições milenárias. À data dos acontecimentos, as características topográficas e naturais do Colmeal contribuíram para que do ponto de vista económico-agrícola, fosse considerada, pelo menos em comparação com a generalidade da vizinhança, como uma zona bastante produtiva. Nestes terrenos se produzia imenso centeio e trigo. A abundância de água, nem sempre habitual nesta região, permitia igualmente uma assinalável produção hortícola e alguma vocação para a pastorícia de ovinos e caprinos. As amendoeiras e as oliveiras tão características desta paisagem, estavam também aqui presentes (hoje cada vez mais substituídas pelo eucalipto). Contudo as mais afamadas produções do Colmeal foram, durante séculos, o mel (que estará, de resto, na origem do próprio nome da povoação), os pimentos, as rolas e as cebolas. Estas duas últimas chegaram, aliás, a fazer parte da própria designação da aldeia já que esta era, muitas vezes, designada por Colmeal das rolas ou Colmeal das cebolas. A generalidade das ruínas corresponde a antigas e tradicionais habitações de piso térreo, predominando a tradicional arquitectura de alvenaria em xisto sem revestimento, com o esporádico recurso ao granito nalgumas componentes estruturais, como é o caso das padieiras, ombreiras e esquinas dos edifícios. Os palheiros e cortes apresentam características semelhantes, embora nestes últimos a cobertura fosse através de materiais perecíveis e não de telha, ao contrário do que acontecia nas habitações onde, apesar do abatimento dos telhados, se detecta ainda essa solução. Do conjunto da povoação salientam-se dois edifícios: a igreja e o “solar” dos Cabrais. A igreja, belíssimo imóvel que terá tido a sua provável origem no século XV e denota uma clara inspiração românico-gótica, não obstante a ruína, a falta de cobertura e a invasão da vegetação, brinda-nos ainda com alguns dos frescos que decoravam originalmente as suas paredes, como é o caso de uma cena de Adão e Eva no paraíso.
Revisionando e explorando as memórias e lamentações dos seus antigos habitantes que viveram os acontecimentos e expõem toda a verdade nua e crua da história desta aldeia "abandonada" ou "fantasma" como dizem alguns portugueses, cujo povo nativo foi vítima de um cobarde massacre, com um grande número de mortos, segundo testemunhos da maioria dos populares que viveram os trágicos acontecimentos em 1957. Entre os testemunhos (e testemunhas) daqueles que viveram a tragédia ou o Massacre do Colmeal, sabemos que ainda hoje há 20 famílias de descendentes dos antigos habitantes do Colmeal que procuram recuperar a propriedade das casas que foram roubadas aos seus antepassados Lusitanos, para eles A ALDEIA DO COLMEAL NÃO É A QUINTA DADA AOS QUIRINOS! Para eles aquele massacre e aquela vergonha contra um povo não pode ficar impune. Porque "aquilo não se fazia!".
Bem hajam 
Carlos Fernandes


Este texto é dedicado aos Lusitanos que tombaram e aos que continuam.

sábado, 15 de março de 2014

O motim dos taberneiros

Motim dos Taberneiros

Fotografia do Monumento ao Marquês de Pombal, em Lisboa / Photo of the Monument to the Marquis of Pombal, in LisbonEm 1757 o Porto foi palco de duas revoltas populares contra a Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro, instituída em 1756 por Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal.
O descontentamento motivado pela formação desta companhia monopolista não só se fez sentir entre os agentes ligados à produção e comercialização de vinho do Porto, nomeadamente os comerciantes ingleses e seus colaboradores, mas também entre os numerosos taberneiros, tanoeiros e pequenos armazenistas da cidade.
O primeiro e principal motim aconteceu na manhã do dia 23 de Fevereiro ao som dos sinos da Sé e da Misericórdia. Os amotinados, reunidos na Cordoaria e gritando palavras de ordem, avançaram até à casa do juiz do povo, sita no Largo de S. Domingos, que foi arrastado pela turba e conduzido numa cadeirinha por, alegadamente, se encontrar indisposto.
O numeroso e exaltado cortejo seguiu até à Rua Chã, ao encontro das residências do regedor das justiças, a quem foi exigida a extinção da Companhia, e do provedor Luís Beleza de Andrade. O escritório da Companhia, a habitação do seu provedor - de onde um criado disparou sobre os revoltosos - e as casas vizinhas de Manuel Barroso (secretário da Companhia) e de Custódio dos Santos (seu deputado) foram vandalizadas.
Capa de Um motim há cem anos, romance histórico de Arnaldo Gama sobre o Motim dos Taberneiros / Cover of the book Um motim há cem anos, historical novel by Arnaldo Gama about the Innkeepers’ MutinyDepois destes episódios violentos os ânimos serenaram e pelas três da tarde a cidade já assistia à Procissão das Cinzas. Porém, esta afronta ao poder central estava longe de ser esquecida, pois, apesar da aparente passividade das autoridades, a notícia do motim chegara rapidamente a Lisboa através da relação enviada pelo Desembargador Bernardo Duarte de Figueiredo.
Cinco dias mais tarde, a 28 de Fevereiro, D. José I ordenou a João Pacheco Pereira de Vasconcelos que abrisse no Porto uma devassa. A 15 de Março, pouco depois da chegada do enviado régio, rebentou segundo motim.
Destes levantamentos populares resultou o apuramento de 462 suspeitos, 26 dos quais foram condenados à pena capital (21 homens e 5 mulheres), a ocupação militar da cidade por vários regimentos da Beira, do Minho e de Trás-os-Montes, a responsabilização dos portuenses pelo aboletamento das tropas, o lançamento de um imposto para pagar os soldos e munições de guerra, a mudança da vereação, a extinção da "Casa dos 24" e, ainda, a nomeação de João de Almada e Melo para Governador do Partido Militar do Porto.
No final, oito condenados conseguiram fugir, uma mulher escapou à forca por se encontrar grávida e os restantes 17 sentenciados à pena capital foram enforcados ou decapitados no dia 14 de Outubro de 1757. As suas cabeças foram colocadas nos patíbulos e os corpos, esquartejados, expostos no Largo de S. Domingos, nas ruas Chã e de Cimo de Vila e no terreiro de Miragaia.
Bem hajam 
Carlos Fernandes


sexta-feira, 14 de março de 2014

Lendas de Proença a Nova

São muitas as lendas e histórias populares que se contam um pouco por todo o concelho, mas nem sempre com implantação ou versões coincidentes de localidade para localidade. As aqui indicadas são apenas uma selecção do vasto património oral disperso por diferentes publicações, podendo ser encontrados mais pormenores no fundo local da Biblioteca Municipal.  LENDA DA SOBREIRA FORMOSA
A tradição atribui o nome a um episódio perdido no tempo, num dia em que três raparigas bonitas estariam a fiar e conversar à sombra de um sobreiro, quando por ali passou um visitante. Apontando uma delas, o desconhecido terá repetidas vezes admirado a sua beleza, dizendo o quanto era formosa. O caso tornou-se conhecido e fez eco das palavras sobreira e formosa, originando o nome com que a terra foi baptizada.


Outra versão conta que o nome da freguesia provém de uma sobreira que sobressaía entre todas as outras que existiam em grande número na região. Mais frondosa e formosa que as restantes, a referida árvore, no local do actual adro da igreja, servia de abrigo aos visitantes que sob os seus ramos descansavam e se protegiam da chuva e do sol. À sua volta foram sendo construídas as casas que, com o passar dos tempos, originaram a povoação.
LENDA DO ARCO DA MOITA


Conta-se que um rapaz do Espinho ia à escola a Proença e descia a pé o Vale Fagundes, naquele tempo muito temido por causa dos “medos”. Como a distância até à escola era muita, o garoto passava no local de madrugada e, ao final do dia, já noite cerrada. A maior parte dos dias chorava com medo e queria desistir de ir à escola.
Uma noite, apareceu-lhe uma senhora vestida de branco, que o aconselhou a ter coragem e a ser persistente no estudo, porque um dia haveria de ser padre. Daí para diante, o rapaz não voltou a ter medo nem desistiu de ir à escola, prometendo que se um dia fosse mesmo padre construiria no local um arco de pedra, para recordar aquela aparição.
Assim teria nascido o Arco da Moita, que ao longo dos tempos foi assinalando o cruzamento da estrada principal com a via que conduz ao Vale das Balsas. Depois de ter sofrido alterações de localização, o arco foi recentemente removido devido às obras de construção do IC8, voltando ao que seria o seu local de origem.
LENDA DA CORTIÇADA


Nos tempos em que existia em Proença-a-Nova grande quantidade de cortiça, um grupo de habitantes decidiu fazer uma torre que os levasse até à lua. Começaram a reunir e a empilhar cortiços sobre cortiços, subindo cada vez em direcção à meta. Quando já muito tinham trabalhado e estavam quase a atingir o objectivo, faltando colocar apenas um último pedaço, aperceberam-se que tinham esgotado toda a cortiça disponível e mesmo depois de percorrerem o concelho não conseguiram encontrar mais.
Depois de muito pensar, um deles pensou ter encontrado a solução:
- Já sei! Tiramos o cortiço do fundo e colocámo-lo em cima, a terminar a torre.
Assim fizeram e claro que a torre de imediato se desmoronou.
Uma segunda parte da lenda retrata uma certa rivalidade que sempre existiu entre Proença e Sobreira Formosa, que chegou a ser sede de concelho. Ao ver a queda da torre, um dos que estava no cimo da pilha gritou de imediato:
- Eh rapazes, aí vai a cortiçada a caminho da Sobreira!
Ficaram então os habitantes de Proença-a-Nova conhecidos como Cortiçolas e os da Sobreira como Cascorros (designação dada à pior parte da cortiça). Durante muito tempo Proença-a-Nova foi conhecida como Cortiçada.

Proença a Nova um Mundo mágico a descobrir,atreva-se a ser a figura principal da nossa história 
Bem hajam 
Carlos Fernandes