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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Festa dos Rapazes ou Festa das Máscaras.

São realizadas na freguesia duas festas uma em honra de Nossa Senhora da Alegria, no segundo Domingo de Agosto, e a de Santo Estêvão ou Festa dos Reinados, nos dias 25 e 26 de Dezembro, cuja designação dentro das tradições é a Festa dos Rapazes ou Festa das Máscaras.
Esta última festa integra cerimónias de carácter cristão e de carácter profano, estando a sua origem, segundo o Abade de Baçal, nas festas saturnais que eram celebradas pelos romanos a partir do dia 17 de Dezembro, durante cerca de 5 ou 7 dias e às quais se agregaram, as juvenais, uma festa que era celebrada pelos jovens com canto bródio e uma patuscada, no dia 24 de Dezembro. O apogeu destas festas deu-se na Idade Média com a Festa dos Loucos, também designada de Festa das Calendas ou dos Subdiáconos, as quais eram celebradas por clérigos de ordens menores, diáconos e sacerdotes, desde o dia de Natal até ao dia de Reis, mas principalmente no dia 1 de Janeiro.
careto-00A festa é organizada por quadro mordomos, quatro moços, que ficam incumbidos de organizar a festa no ano seguinte. Caso não o façam, a aldeia faz-lhes o enterro, no qual se inclui um cerimonial onde se arma um cadafalso e se prepara um púlpito, bancos, uma estante para os ofícios e um mono. Um mono é um boneco de palha e farrapos que representa cada um dos visados, sendo levado pelos padres, homens vestidos de padre, e pelos mascarados para o cadafalso, enquanto os últimos gritam, cantam e dançam ao som da gaita de foles. Entoam, de seguida, o ofício, prosseguindo-se com o elogio fúnebre, uma farsa em verso que leva todos os ouvintes ao riso e que é lido pelo pregador, tal como o testamento. No final, os elementos que participam no ritual incineram o cadáver, indo depois todos comer e beber até fartar.
No entanto, este ritual raramente ocorre, pois os grupos de rapazes, no passado, de um bairro, actualmente, de qualquer bairro, não pretendem ser alvo deste levantamento social.
A festa integra um rei, dois vassais, quatro moços, um gaiteiro, um tamborileiro e um grupo de mascarados, que participam na ronda, cujos ritos cerimoniais são o peditório e o roubo simbólico.
Depois do ensaio dos rapazes, no dia 24 de Dezembro, em que participa o gaiteiro que chega logo de manhã à aldeia para anunciar a festa ao som da gaita de foles, inicia-se a ronda na tarde do dia 25 de Dezembro.
Os quatro moços enfeitam-se, seguindo acompanhados pelo gaiteiro, pelo tamborileiro e pelos caretos, um grupo de mascarados, para darem a volta às casas do povoado, onde entram cantando e dançando.
Dentro das casas os donos e as pessoas que se encontram na casa esperam-nos, em silêncio, na sala, onde se preparou uma mesa coberta por uma toalha de linho branco e enfeitada com pão, vinho e carne de porco.
Os moços, como referido anteriormente, entram primeiro para dar as boas festas, cantando e dançando em torno da mesa, em movimentos circulares, enquanto batem castanholas. Em troca recebem dos donos dinheiro ou fumeiro, sendo o primeiro canalizado para rezar uma missa ao Santo Estêvão e para a animação e para o divertimento.
Entram, desta feita, os caretos, também trajados com cores garridas e máscaras, em silêncio para não serem reconhecidos, ao mesmo tempo que fazem um barulho confuso e ensurdecedor com as correntes, campainhas e chocalhos. O seu aspecto terrífico, proveniente das máscaras, bem como da sua postura inconstante, causa um sentimento estranho em quem os observa, atestando assim a omnipresença do sobrenatural. Tudo lhes é permitido, colocando-se fora das leis e convenções sociais, quer pela forma desordenada como entram e saem das casas, quer pelos gestos obscenos, atitudes, olhares ou expulsão da dona da casa, para além de arrastarem coisas para fora dos lugares, de saltarem muros e janelas e de cercarem pessoas na rua, principalmente mulheres e crianças, em torno das quais chapinham e saltam, quer os charcos resultem das condições atmosféricas, quer tenham sido feitos propositadamente por eles com este propósito. O cerimonial completa-se com os gritos e urros estridentes, “hi!”, “gu!” e “gus!”, que, segundo o Abade de Baçal, resultam de uma espécie de relincho de origem celta e que é comum em toda a região do norte de Espanha.
À noite vão todos para a galhofa, um baile realizado na Casa do Povo, embora se fizesse, no passado, nos currais, sempre com o vinho e o pão a acompanhar.
No dia 26 faz-se a ronda às casas que faltavam com a entoação de um cântico diferente com vista a acordar os seus habitantes.
No final da ronda, por volta do meio-dia, estes elementos juntam-se ao rei, em sua casa, e aos vassais, para partirem em cortejo para a igreja onde se celebra uma missa em honra de Santo Estêvão, o santo invocado contra as doenças dos suínos, para além de ser o padroeiro das árvores de fruto. Os mascarados seguem sem uma ordem específica, enquanto que os restantes são encabeçados pelo gaiteiro, seguido pelos quatro moços, outras pessoas e pelo rei com os seus dois vassais.
Na igreja, à porta, o padre asperge o rei e os vassais, ocupando o primeiro o lugar central, junto ao altar-mor, ladeado pelos segundos. Um dos vassais leva pães de trigo para que sejam benzidos, o pão bento, o qual irá ser consumido, em parte, na refeição colectiva. O pão bento sobejante é guardado para ser dado, posteriormente, aos animais para os curar de doenças e do “mau olhado”. O gaiteiro entra na igreja, apesar de tal não suceder outrora, mas aos mascarados é vedada a entrada. Este procedimento espelha a situação de litígio em que a igreja entrou face aos rituais pagãos, no período de Evangelização, não estando estes igualmente presentes no período da benção da mesa, realizada ao ar livre na presença do andor de Santo Estêvão que sai em procissão em torno da igreja.
Ousilhao-Festa-dos-rapazesNa mesa, feita de tábuas e coberta por uma toalha de linho, estão as ofertas, onde se incluem o pão de trigo, o vinho, o fumeiro, doces e fruta, bem como pão-de-ló, vinho generoso e outras iguarias, estes últimos num dos extremos. No extremo referido está o padre à cabeceira ladeado pelo rei e vassais, enquanto que, em volta, estão os homens, primeiro, seguidos das mulheres e das crianças. De notar que o pão e o vinho são os alimentos principais da mesa, ficando dois moços encarregues de distribuir o pão e os restantes distribuem o vinho, para que sejam comidos pelos presentes. Depois o padre benze a mesa e rezam-se orações com intenções específicas, até que é hora do padre transferir os poderes do velho para o novo rei, o do próximo ano, através da atribuição de coroas ao rei e aos vassais. Nesta altura, a presença dos caretos já é admitida, com vista à saudação do novo rei através de aplausos e da proclamação de vivas.
A mesa é depois leiloada por um moço que irá beber um cálice de vinho com o arrematador, culminando o ritual com a ida de todos para casa do novo rei, o qual oferece pão e vinho aos presentes.
A festa termina com um baile, no entanto, no intervalo que decorre entre a refeição colectiva e o mesmo, os caretos continuam a correr pela povoação a assustar pessoas, e, por vezes, sobem para cima de carros de bois e proferem discursos satíricos ou loas, nos quais põem a descoberto os comportamentos sociais e individuais das pessoas da terra, constituindo estes uma forma de sanção social. Os mascarados apresentam-se no baile já com a cara destapada.
Outra tradição é a vida comunitária, expressa pela entreajuda entre vizinhos, em gesto de solidariedade e de fraternidade, indo desde as segadas à matança do porco, no passado como no presente. A matança do porco é um ritual que se relaciona com o sobrenatural, a economia, a vida em sociedade e o lazer. O porco é alimentado com a castanha e os produtos agrícolas até que é morto nos meses frios de Inverno, entre Novembro e Janeiro, conservando-se assim a carne e curando-se o presunto. Nela participam o “matador”, os ajudantes, os parentes, os amigos e os vizinhos. Os homens encarregam-se de matar o animal, sendo as mulheres quem o prepara ou “amanha”, enquanto confeccionam a refeição para todos. A preparação dos enchidos é o culminar do ritual em que tudo se aproveita não só para servir como merenda nos tempos vindouros, como para servir de oferta, durando cerca de dois ou três dias.
O pão é outro elemento central da vida de Ousilhão, implicando trabalhos e actividades durante um ano inteiro. Inicia-se com a preparação da terra para as sementeiras no final do Inverno, passando pelas segadas, onde, por vezes, se canta, pelas malhas e pela cozedura do pão. 
No que diz respeito a feiras, não existe qualquer referência na freguesia. 
As danças e cantares, que marcaram outrora a vida dos habitantes da freguesia, têm, actualmente, representação nos rituais da Festa dos Reinados, ficando aqui a transcrição dos cantares entoados pelos moços, respectivamente, nos dias 25 e 26 de Dezembro.
“ Estas casas são caiadas,
Mais por dentro que por fora,
Muitos anos vivam nelas,
Os senhores que nelas moram.”

“Levantem-se ó Senhores
Desses seus escanos dourados
Dai a esmola ao Santo Estêvão
Que ele lhes dará pago.”

No que diz respeito aos trajes característicos, há a referir os vestidos pelos participantes na Festa dos Reinados, a saber, os Caretos, os Moços e os Reis (rei e seus vassais), nos dias 25 e 26 de Dezembro.
Os quatro moços enfeitam-se com chapéus torneados na copa por uma fita de seda, com as pontas pendentes sobre as costas, com um bonito lenço de lã vermelho e amarelo garridos, ambos pelas costas e atados à frente com um nó, com castanholas nas mãos.
Os caretos, ou mascarados, usam trajes de cores garridas que são feitos de colchas antigas vermelhas e amarelas, as quais eram tecidas nos teares, antigamente, pelo que hoje já é difícil arranjá-las. Nelas há franjas e capucho, sendo envolvidas por correntes, chocalhos e campainhas, presos em torno da cintura por um cinto de couro. Calçam socos de madeira ou botas com polainas até aos joelhos e trazem um cajoto, um pau que termina em forma de animal, habitualmente, a cabeça de uma serpente, podendo ser mais alto do que o mascarado e terminar em arco, na mão. Trazem ainda uma máscara de madeira de castanho nas quais são talhadas figuras de animais ou de homens, ainda que sempre marcadas pelo grotesco. Assim podem ver-se olhos vazados, pestanas e sobrancelhas gravadas a fogo, a língua pendente, orelhas disformes, chifres, animais incorporados na testa ou nas orelhas, entre outros.
O rei, tal como os vassais, veste-se a rigor com fato e gravata e traz uma coroa feita de papelão verde e revestida a ouro, embora a dos segundos seja mais simples. O primeiro comporta ainda um ceptro, um pau, com uma fita de seda branca e uma laranja espetada na ponta, enquanto o dos segundos tem uma fita de seda azul.
Os jogos tradicionais de Ousilhão são o Jogo do Fito, o Jogo do Ferro, a Relha e o Jogo dos Paus, os quais são praticados pelas festas, à excepção do jogo do fito que se pratica regularmente.
jogo do fito é praticado por dois ou quatro jogadores que jogam em equipa para derrubar os dois fitos ou marcos com duas pedras, arrecadando quatro pontos, se o conseguirem fazer, e dois pontos se forem os jogadores que se aproximarem mais do fito. Os marcos ou fitos são colocados em pé a uma distância de 10 ou20 metros um do outro, sendo o vencedor aquele que conseguir alcançar primeiro um total de 40 pontos.

Artesanato 
O seu artesanato é constituído por máscaras em madeira de castanho que são feitas por artesãos e que imitam figuras de animais e figuras humanas, ambas grotescas e utilizadas pelos caretos na Festa dos Reinados ou Festa dos Rapazes.
Existem ainda, em Ousilhão, teares nos quais se fazem obras fantásticas. 
No que respeita aos brinquedos tradicionais, não há qualquer referência na freguesia de Ousilhão.
(Textos fornecidos pela Junta de Freguesia de Ousilhão)   
Bem Hajam 
Carlos Fernandes                                                                                         

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