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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Os “Alinhavados de Nisa” ou “Crivos de Nisa”



Mulher em traje tradicional de Nisa, confeccionando um alinhavado

"As rendeiras estão sentadas em tripeças,junto ás portas, vestidas com trajes característicos -
saias escuras com barras claras, roupinhas de pano, lenço traçado sobre o peito,e mantinha curta na cabeça ou o clássico chapéu Nisense ; adornam.se com gargantilhas e fios de ouro, onde predominam os antigos hábitos de Cristo, de ouro esmaltado.
Algumas delas com rebolo (almofada) sobre os joelhos, vão fazendo as rendas de colchete, das mais complicadas, rendas de rebolo (bilros), ou fazendo renda de agulha, que servem a mais das vezes, para colchas, que levam anos a compor e que gerações guardam nas arcazes, servindo somente nos dias festivos,de bodas ou baptizados .
A indústria das rendas de Nisa, restringida ao uso local,nota certo desenvolvimento no labor das rendeiras, pela exportação de muitos e belos exemplares ".
In Bordados e rendas de Portugal, colecção educativa -Série N- nª 10 

Rebolo: utensílio com o qual se produz a renda de bilros

De tradição muito antiga, sendo embora a sua origem impossível de datar com rigor,os bordados de Nisa chegam até nós devido a um arreigado tradicionalismo das gentes locais, com principal ênfase no respeito pelos costumes do casamento: a cama da noiva, a que se dava o nome de cama grave, era normalmente adornada com colchas, cobertores, lençóis e toalhas, a maior parte  das vezes produzidas pela própria e que faziam o seu orgulho, as delícias dos visitantes e a inveja ingénua das moças casadoiras.
Pormenor de cama tradicional, com almofadões, lençóis e colcha bordados.
Mas se até meados do século XX , era em casa das Mestras ( na sua maioria mulheres idosas e eximias bordadeíras, que ensinavam a arte enquanto  davam vazão ás encomendas ) que as meninas aprendiam este labor, logo após a saída da escola, a mudança de hábitos de vida, com o aumento da escolaridade obrigatória e a possibilidade de continuar os estudos, retirou-lhes o tempo para a confecção do enxoval e para longa e laboriosa aprendizagem envolvida nesse processo secular.
Sem aprendizes, logo sem ajudantes, a arte das bordadeiras foi-se assim perdendo, por não ser mais rentável . E com ela a qualidade ancestral dos Bordados de Nisa , que passaram revestir-se de elementos decorativos cada vez menos cuidados e morosos elaborados muitas vezes através de fabrico mecânico .
Ora, juntando a isto o facto das encomendas exteriores, trazidas pelas "Senhoras", se basearem cada vez mais em desenhos importados das revistas de moda , se possível estrangeiras , o bordados nisense foi perdendo alguma qualidade e genuinidade que lhe conferiam a beleza e riqueza artística  inestimável de outros tempos .
Caramelo: alinhavado em linho, no estilo mais antigo
 
Bem hajam 
Carlos Fernandes 
(agradecimentos ao Museu do Bordado e do Barro de Nisa )

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