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sábado, 3 de maio de 2014

Festa das Cruzes -Barcelos


A Festa das Cruzes deve a sua origem ao ‘milagre das Cruzes’. São várias as lendas sobre a natureza da cruz em questão e ao contexto que envolveu o milagre. Mais consensual é a data da sua aparição e a pessoa a quem terá aparecido...

Reza a lenda que '(...) no ano de mil quinhentos e quatro, sexta-feira, vinte dias do mês de Dezembro, hás nove horas, pouco mais ou menos (...) vinha João Pires, sapateiro, pela dita rua que vinha da Ermida do Salvador (...) que fossemos ver e guardar uma Cruz que demonstrava um grande santo milagre que estava junto da Cruz, aos Carva-lhos do Campo da Feira. (...) Em direito da dita cruz, no chão, em um barreiro, estava feita e assinada, que fica da mão direita quando homem vê o do Salvador , uma mui proporcionada e talhada e direita Cruz, toda tão preta como esta regra em cima, de três côvados e três quartos em ancho e, de largura a quadra dela de um palmo e todo por igual'.Isto segundo Frei Pedro de Poiares, no ‘Tractado Panegyrico em Lovvor da Villa de Barcelos’, de 1672.
A ‘visão’ do sapateiro João Pires, em Dezembro de 1504, arrastou gente de perto e de longe para ver uma cruz de terra (o povo viu cruzes) no Arrabalde de Cimo de Vila. Ergueu-se o alpendre, abrigo do Sinal, onde o incrédulo viu o milagre, o povo tirava a terra e logo a cova se tornava a encher' descreve a lenda.
Outra versão deste milagre, fala da filha deste sa-pateiro barcelense João Pires, que teria trazido um madeiro encontrado numa praia, e, que parecia ser um pedaço de uma cruz vinda entre despojos de um naufrágio. João Pires não lhe terá prestado atenção ne-nhuma e atirado o madeiro para a lareira, mas logo depois, estando à porta de casa, ter-lhe-á surgido uma cruz luminosa. A notícia espalhou-se e todos acorreram para ver a cruz que voltava sempre a aparecer. 
Foi erguida uma ermida a perpetuar o ‘milagre das cruzes’ em honra do Senhor da Cruz às costas, representado por uma imagem adquirida na Flandres por um mercador barcelense.Só mais tarde, foi construído um templo que ficou concluído em 1708.
Lendas das ‘cruzes irmãs’ une Barcelos, Fão e Matosinhos
Outra lenda é a das ‘cruzes irmãs’. Em tempos remotos, países protestantes do Norte lançaram ao mar três imagens dos Senhor dos Passos.Arrastadas pelas ondas e correntes, as imagens foram ter a diferentes localidades portuguesas - uma delas terá aparecido em Matosinhos, outra na praia de Fão e a terceira, abandonou o mar e chegou às águas doces do Cávado, subindo o rio para dar à margem em Barcelos. Aí foi recolhida e transportada para a ermida do Senhor da Cruz.Lenda, crença ou realidade, a verdade é que esta versão criou ‘laços de irmandade’ entre as populações de Barcelos, Matosinhos e Fão que se reflectem no canto popular: “O Senhor de Matosinhos’/Mandou dizer ao de Fão/Que dissesse ao de Barcelos/Que eram todos irmãos”.
Milagre em Dezembro festa transferida para Maio
Pode-se dizer que até ao século XIX, a Festa das Cruzes tem um cariz essencialmente religioso. A esta acorriam milhares de romeiros, não só de Barcelos mas de outras localidades mais distantes, que vinham cumprir as promessas ao Senhor da Cruz, dando origem, assim, à romaria em sua honra. Com o decorrer do tempo, o religioso e o profano passaram a conviver.Embora não haja documentação do princípio da Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz, crê-se que ela já existia pelo menos, em 1609.
O título honorífico de 'Real' ter-lhe-á sido outorgado no início do século XIX por D. Pedro IV, que aceitou ser seu juiz perpétuo. Também foi juiz vitalício da Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz, para além doutros, D. Fernando II, D Pedro V e D. Luís I, que terá visitado as Festas das Cruzes em 7 de Maio de 1852.O ‘milagre das cruzes’ reporta-se a Dezembro e a Festa foi transferida para Maio. Há quem aponte essa mudança com base no calendário litúrgico, que em 3 de Maio festeja a Santa Cruz.





Bem hajam 
Carlos Fernandes 

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