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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O filho e a filhós


“As palavras são como as cerejas” – dizia o meu “avó” 
Pois cá estão elas a puxar uma pelas outras.
Puxei pelas “Bolas de Berlim”, que uma refugiada judia da Alemanha introduziu em Portugal, fiz crescer água na boca a um bom número de leitores, e agora vem o velho amigo Lopes  perguntar mais detalhes sobre as tradicionais “filhós” portuguesas.
Antes de responder directamente à pergunta, um esclarecimento sobre os ditos e bem saborosos fritos do Natal.
Eu não sei qual a origem das filhós, como doce. Mas já assim se chamavam no século XVI, pois já Gil Vicente escreveu sobre elas:
mando-vos eu sospirar pola padeira d’Aveiro que haveis de chegar à venda e entam ali desalbardar e albardar o vendeiro
senam tever que nos venda vinho a seis, cabra a três pão de calo, filhós de manteiga moça fermosa, lençóis de veludo casa juncada, noite longa chuva com pedra, telhado novo a candea morta e a gaita à porta. Apre zambro empeçarás olha tu nam te ponha eu o colos na rabadilha e verás”.
        Quanto à etimologia, filhós vem do latim filiola, que significava filha pequena.
         Agora, respondendo à pergunta: filhós é tão bom, que todos gostam de comer e ninguém se farta, na noite da consoada, e no dia seguinte.   Por isso é tanto masculino, como feminino, tanto singular, como plural.    Comem todos: o filhós, a filhós, os filhós, as filhós.
Há quem use no singular filhó, mas parece-me que está errado.   Nos séculos XIV e XV usava-se filhó por filho, e talvez por detrás desse uso se esconda a origem do bolo.  Não sei!
 E há também quem use no plural filhoses e também filhozes.   Este plural já entrou no costume, e portanto, segundo os dicionários,  não é errado.Nos Açores chamam-lhes“malassadas”.
       Bom proveito!
Bem hajam 
Carlos Fernandes

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