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domingo, 8 de dezembro de 2013

É UM DOM, O DE ENCOMENDAR ALMAS PARA O OUTRO MUNDO. AS CARPIDEIRAS !!

No contexto do Antigo Testamento, encontramos mulheres profissionais do pranto e do luto. Essas senhoras eram conhecidas pela alcunha de “carpideiras”, no hebraico “lameqōnenōt” – literalmente, aquelas que são como fontes de lágrimas. Essas profissionais eram contratadas para lamentar, chorar, e lamuriar nos velórios. Por esta razão é que a NVI traduz o termo hebraico por “pranteadoras profissionais” em Jeremias 9.17.
Esperava-se que através da simulação de angústia e dor manifestadas por estas mulheres, o participante lutuoso fosse contagiado pela tristeza e aflição, como afirma o profeta das lágrimas:
Apressem-se e levantem sobre nós o seu lamento, para que os nossos olhos se desfaçam em lágrimas, e as nossas pálpebras destilem água (Jr 9.18).



Iconografias do século XV e XIV a.C. na cidade egípcia de Tebas, demonstram que esse ofício era conhecido não somente em Israel, mas em todo Antigo Oriente. A profissão se perpetuou passando incólume por todos os grandes impérios: Babilônia, Assíria, Grécia, Roma e também no Brasil. Afinal, qual político não necessita de uma carpideira para chorar sua desventura? No Brasil, por exemplo, elas chegaram com a colonização portuguesa. Caso você não saiba, a senhora Itha Rocha é a carpideira mais famosa do Brasil. Essa profissional do pranto, com todo respeito, procede de uma longa ascendência de pranteadoras. Já chorou até no velório de Clodovil Hernandes, no entanto, ela disse ao repórter Vagner Magalhães: “O que interessa é o gesto humano. Demonstrar laços como se fôssemos parentes, irmãos". Certo incógnito disse-me uma vez que, em um velório em SC, a carpideira contratada parecia mais a viúva do falecido. Por curiosidade, perguntei a razão pelo qual ele chegou a essa constatação metafísica e ouvi atentamente a seguinte resposta: “além de ela chorar, não parava de beijar o cadáver!”. Que dureza!!!!!
As lamuriantes contratadas vestiam-se de preto e não costumavam usar perfume. Em 2 Samuel 14.2 é citado o caso de uma mulher astuta contratada por Joabe para simular um luto perante o rei Davi, diz a Escritura:
Finge que estás profundamente triste, põe vestido de luto, não te unjas com óleo e sê como mulher que há muitos dias está de luto por algum morto.
Interessante como o escritor Newton Moreno captou com mestria a farsa lamuriante das carpideiras, assim como Joabe, ao descrever o encontro de Socorro (Marieta) com Zaninha (Beltrão). Zaninha encanta-se com a profissão de Socorro e deseja saber o segredo da arte do carpir. Prontamente, a personagem alerta: para ser uma boa carpideira é necessário, em primeiro lugar, ser mãe, para que sinta medo da perda e, depois, um forte respeito à morte. Lembremos que Jeremias afirmava que esta profissão era passada de mãe para filha.
Assim como a carpideira de Tecoa, contratada por Joabe, existiam muitas outras em Israel cujo ofício era hereditário, conforme Jeremias 9.20:
Ouvi, pois, vós, mulheres, a palavra do SENHOR, e os vossos ouvidos recebam a palavra da sua boca; ensinai o pranto a vossas filhas; e, cada uma à sua companheira, a lamentação.
As pranteadoras contratadas são chamadas de “mulheres hábeis” (’iššâ hakāmôt):
Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Considerai e chamai carpideiras, para que venham; mandai procurar mulheres hábeis (’iššâ hakāmôt), para que venham (Jr 9.17).
O termo hakāmôt que é o plural feminino de hakāmâ (sabedoria), significa “sábia”, entretanto, à luz do contexto, não se trata de “mulheres sábias”, tal qual traduzido pela Septuaginta (LXX) e seguido pela ARC, mas de “mulheres habilidosas”. A TEB traduz por“melhores” (9.16), isto é, “melhores em sua arte”, “em sua profissão”, “hábeis na lamentação fúnebre”. Brenner, comentando sobre a expressão em apreço afirma:
Uma carpideira profissional, portanto, tinha de aprender e ser versada na poesia peculiar à sua ocupação. A “sabedoria” das mulheres carpideira consistia em sua habilidade vocacional (isso surge da estrutura poética do versículo 16 [17]: “mulheres carpideiras” na primeira coluna do verso, comparadas com hakāmôt, na segunda coluna). Portanto, o termo hakāmôt, aqui deveria ser traduzido por “mulheres habilidosas”, e não “mulheres 
Bem hajam 
Carlos Fernandes 

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