O congresso de 1911 A república e a existência de um contexto favorável à realização de iniciativas promotoras do turismo.
Se bem que desde o final do século xix o turismo tivesse
conhecido um desen‑
volvimento importante e que se tivessem criado instituições e
publicações que procu‑
ravam promover o excursionismo e as viagens turísticas de
nacionais e estrangeiros, a
implantação da república criou um clima mais favorável à
realização de iniciativas
ligadas com o turismo. Basta recordarmo ‑nos que, embora a
sociedade Propaganda de
Portugal se proclamasse independente de qualquer orientação
política e tivesse entre
os seus membros vários monárquicos, na verdade os
republicanos detinham naquela
sociedade vários lugares de destaque. este facto favoreceu
indubitavelmente a ligação
desta sociedade ao poder político e a maior sensibilização
dos membros do governo
para o turismo como fonte de promoção e desenvolvimento
económico do país. Além
disso, os turistas eram já então considerandos não só como
fator de desenvolvimento
dos transportes, mas também da economia nacional na sua
globalidade. isso mesmo
transparece das palavras de Thomás Cabreira, deputado à
Assembleia nacional
Constituinte, em agosto de 1911, ao referir ‑se ao exemplo de
outros países:
“todos os países procuram hoje desenvolver a industria do
turismo
como uma das que dá resultados mais apreciáveis para a
economia nacional.
A luta para a conquista do viajante vai ‑se accentuando cada
vez mais entre os
diversos povos. A Suissa, a França, a Alemanha, a Bélgica e a
Holanda fazem
um reclamo enorme ás suas estações balneares, therinaes e
alpestres, realizam
obras extremamente dispendiosas e construem caminhos de
ferro, unicamente
destinados ao turismo[…]”
As grandes conclusões e medidas resultantes do congresso
o resultado mais importante do Congresso de turismo realizado
em Lisboa
foi sem dúvida a decisão de se criar uma repartição do
turismo, apresentada durante
O congresso.
o
reconhecimento da importância do turismo e das estruturas incentivadoras
do mesmo deu
origem à Federação franco ‑hispano ‑portuguesa
de sindicatos de ini‑
ciativa e de
propaganda. Por outro lado, o interesse crescente pelo turismo e a reali‑
O Congresso foi também importante para o desenvolvimento dos transportes
e das vias de comunicação em Portugal, pois se desde final do século xix já era per‑
cebida de forma clara a ligação entre transportes e turismo esta perceção tornou ‑se
mais clara com os congressos de turismo organizados desde o início do século xx e
nos quais se procurava estabelecer uma regulamentação para a circulação de automó‑
veis nos diferentes países 28. em Dezembro de 1911, quando no Parlamento se apre‑
sentou a “proposta de lei para [ratificação], da Convenção internacional relativa á cir‑
culação de automóveis” já assinada em Paris em 1909, o deputado Carlos Calixto
expôs algumas considerações gerais sobre o assunto: para além de lamentar a desarti‑
culação da rede viária portuguesa, que isolava entre si as diferentes regiões do país,
sublinhava ainda a falta de estradas que “de penetração”, entre Portugal e o resto da
Península ibérica, indispensáveis para a abertura do país ao fluxo dos “excursionistas”
europeus 29.
A organização do Congresso de turismo em Portugal foi um incentivo ao
desenvolvimento da rede viária. A previsão de que vários automobilistas estrangeiros
27 IVe Congrès International de Tourisme. Compte ‑Rendue Géneral, Lisbonne 12 ‑19 Mai 1911, Lisboa, tip
universelle, 1912, p. 13. 28 o regulamento sobre a Circulação de Automóveis foi aprovado em 1901. o aumento de circulação
automóvel que se registou nos primeiros anos do século XX nos diferentes países determinou a organiza‑
ção, em 1909, da 1.ª Conferência internacional de Automobilismo que teve lugar em Paris e na qual foi
aprovada uma Convenção internacional sobre a circulação Automóvel que veio depois a ser ratificada
pelos principais países europeus.
29 Diário da Câmara dos Deputados, sessão n.º 2, 21 de Dezembro de 1911, pp. 21 ‑24.
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viriam a este congresso foi motivo para que se procedesse a várias reparações nas
estradas existentes no país e se concluíssem as obras de outras 30. este facto foi noti‑
ciado pela sPP que, entre outras notícias, referiu que “consta que para a inauguração
do Congresso já estará concluída a estrada que ligue o Alentejo ao Algarve, podendo
assim os automobilistas visitar também estas duas províncias.” 31. Para melhorar as
condições de circulação de automóveis no país, durante o Congresso de turismo de
1911 foi de novo reforçado o desejo de que, em Portugal, “todos os sinais avisadores de
obstáculos nas estradas [fossem] tanto quanto possível idênticos em todos os países” e que
fosse pintada uma faixa vermelha transversal sobre a tabuleta dos sinais de obstáculo
já colocados. na sequência deste Congresso, em julho desse ano foi aprovado o
regulamento sobre a Circulação de Automóveis 32.
Como se disse, a questão da circulação de pessoas em comboio e automóvel
assumiu grande importância e o Congresso emitiu vários votos ligados com esta
questão: que os Congrès de la Route passassem a ter em maior conta as necessidades
de circulação de automóveis, nomeadamente pelo melhoramento do pavimento das
estradas existentes e pela construção de novas; que os delegados francês e espanhol
tomassem medidas para que os seus governos reconhecessem os certificados do
Automóvel Club Português; a solicitação aos governos português e espanhol para
concordarem com a adoção da tarifa comum na união internacional de Caminhos
de Ferro; a criação de um comboio direto entre Lisboa, Barcelona e Marselha, assim
como as ligações entre o comboio do sudeste francês e a fronteira espanhola; o esta‑
belecimento de tarifas que facilitassem o transporte dos automóveis daqueles que
faziam turismo; facilidades nas viagens de barco para incentivar as ligações com a
América latina e as ligações entre as linhas ferroviárias e as cidades portuárias; a
melhoria dos transportes; a criação de um organismo oficial de turismo em todos os
países federados, como o que já existia em França e o que ia ser criado em
Portugal.
durante o congresso foi também criada uma “Federação franco ‑hispano‑
‑portuguesa de sindicatos de iniciativa e de propaganda” cujos estatutos foram estabele‑
cidos na altura, e determinou ‑se que o V Congresso internacional de turismo teria
lugar em Madrid 33
Considerações finais
Segundo Mendonça e Costa, com a criação de uma repartição de turismo “A
missão da “Propaganda” passa, pois, para uma repartição official, e a Sociedade deixa de ter
rasão de existir. Morrerá, mas morrerá coberta de gloria” 34. enganou ‑se, no entanto,
Mendonça e Costa e, apesar da criação da repartição e conselho de turismo no âmbito
governamental, continuou a haver espaço para a atuação da sociedade Propaganda de
Portugal. nos anos que se seguiram esta continuou a publicar o seu Boletim, editou
guias de várias localidades portuguesas, alguns dos quais traduzidos para outras lín‑
guas, promoveu excursões e multiplicou a sua ação em prol do desenvolvimento do
turismo.
zação do
congresso de 1911 tiveram, como vimos atrás, incidências diretas sobre a
questão do
desenvolvimento dos transportes e da criação de infraestruturas destina‑
das a
receber condignamente aqueles que visitavam Portugal
Fonte :
Ana Cardoso de Matos, Maria Ana Bernardo e Maria Luísa Santos
CideHus/universidade de Évora
Bem Hajam
Carlos Fernandes
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