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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

IV Congresso Internacional de Turismo, realizado em Lisboa, na Sociedade de Geografia -1911


O congresso de 1911 A república e a existência de um contexto favorável à realização de iniciativas promotoras do turismo.

Se bem que desde o final do século xix o turismo tivesse conhecido um desen

volvimento importante e que se tivessem criado instituições e publicações que procu

ravam promover o excursionismo e as viagens turísticas de nacionais e estrangeiros, a

implantação da república criou um clima mais favorável à realização de iniciativas

ligadas com o turismo. Basta recordarmo nos que, embora a sociedade Propaganda de

Portugal se proclamasse independente de qualquer orientação política e tivesse entre

os seus membros vários monárquicos, na verdade os republicanos detinham naquela

sociedade vários lugares de destaque. este facto favoreceu indubitavelmente a ligação

desta sociedade ao poder político e a maior sensibilização dos membros do governo

para o turismo como fonte de promoção e desenvolvimento económico do país. Além

disso, os turistas eram já então considerandos não só como fator de desenvolvimento

dos transportes, mas também da economia nacional na sua globalidade. isso mesmo

transparece das palavras de Thomás Cabreira, deputado à Assembleia nacional

Constituinte, em agosto de 1911, ao referir se ao exemplo de outros países:

“todos os países procuram hoje desenvolver a industria do turismo

como uma das que dá resultados mais apreciáveis para a economia nacional.

A luta para a conquista do viajante vai se accentuando cada vez mais entre os

diversos povos. A Suissa, a França, a Alemanha, a Bélgica e a Holanda fazem

um reclamo enorme ás suas estações balneares, therinaes e alpestres, realizam

obras extremamente dispendiosas e construem caminhos de ferro, unicamente

destinados ao turismo[…]”

As grandes conclusões e medidas resultantes do congresso

o resultado mais importante do Congresso de turismo realizado em Lisboa

foi sem dúvida a decisão de se criar uma repartição do turismo, apresentada durante

O congresso.

o reconhecimento da importância do turismo e das estruturas incentivadoras
do mesmo deu origem à Federação franco hispano portuguesa de sindicatos de ini
ciativa e de propaganda. Por outro lado, o interesse crescente pelo turismo e a reali

O Congresso foi também importante para o desenvolvimento dos transportes

e das vias de comunicação em Portugal, pois se desde final do século xix já era per

cebida de forma clara a ligação entre transportes e turismo esta perceção tornou se

mais clara com os congressos de turismo organizados desde o início do século xx e

nos quais se procurava estabelecer uma regulamentação para a circulação de automó

veis nos diferentes países 28. em Dezembro de 1911, quando no Parlamento se apre

sentou a “proposta de lei para [ratificação], da Convenção internacional relativa á cir

culação de automóveis” já assinada em Paris em 1909, o deputado Carlos Calixto

expôs algumas considerações gerais sobre o assunto: para além de lamentar a desarti

culação da rede viária portuguesa, que isolava entre si as diferentes regiões do país,

sublinhava ainda a falta de estradas que “de penetração”, entre Portugal e o resto da

Península ibérica, indispensáveis para a abertura do país ao fluxo dos “excursionistas”

europeus 29.

A organização do Congresso de turismo em Portugal foi um incentivo ao

desenvolvimento da rede viária. A previsão de que vários automobilistas estrangeiros

27 IVe Congrès International de Tourisme. Compte Rendue Géneral, Lisbonne 12 19 Mai 1911, Lisboa, tip

universelle, 1912, p. 13. 28 o regulamento sobre a Circulação de Automóveis foi aprovado em 1901. o aumento de circulação

automóvel que se registou nos primeiros anos do século XX nos diferentes países determinou a organiza

ção, em 1909, da 1.ª Conferência internacional de Automobilismo que teve lugar em Paris e na qual foi

aprovada uma Convenção internacional sobre a circulação Automóvel que veio depois a ser ratificada

pelos principais países europeus.

29 Diário da Câmara dos Deputados, sessão n.º 2, 21 de Dezembro de 1911, pp. 21 24.

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viriam a este congresso foi motivo para que se procedesse a várias reparações nas

estradas existentes no país e se concluíssem as obras de outras 30. este facto foi noti

ciado pela sPP que, entre outras notícias, referiu que “consta que para a inauguração

do Congresso já estará concluída a estrada que ligue o Alentejo ao Algarve, podendo

assim os automobilistas visitar também estas duas províncias.” 31. Para melhorar as

condições de circulação de automóveis no país, durante o Congresso de turismo de

1911 foi de novo reforçado o desejo de que, em Portugal, “todos os sinais avisadores de

obstáculos nas estradas [fossem] tanto quanto possível idênticos em todos os países” e que

fosse pintada uma faixa vermelha transversal sobre a tabuleta dos sinais de obstáculo

já colocados. na sequência deste Congresso, em julho desse ano foi aprovado o

regulamento sobre a Circulação de Automóveis 32.

Como se disse, a questão da circulação de pessoas em comboio e automóvel

assumiu grande importância e o Congresso emitiu vários votos ligados com esta

questão: que os Congrès de la Route passassem a ter em maior conta as necessidades

de circulação de automóveis, nomeadamente pelo melhoramento do pavimento das

estradas existentes e pela construção de novas; que os delegados francês e espanhol

tomassem medidas para que os seus governos reconhecessem os certificados do

Automóvel Club Português; a solicitação aos governos português e espanhol para

concordarem com a adoção da tarifa comum na união internacional de Caminhos

de Ferro; a criação de um comboio direto entre Lisboa, Barcelona e Marselha, assim

como as ligações entre o comboio do sudeste francês e a fronteira espanhola; o esta

belecimento de tarifas que facilitassem o transporte dos automóveis daqueles que

faziam turismo; facilidades nas viagens de barco para incentivar as ligações com a

América latina e as ligações entre as linhas ferroviárias e as cidades portuárias; a

melhoria dos transportes; a criação de um organismo oficial de turismo em todos os

países federados, como o que já existia em França e o que ia ser criado em

Portugal.

durante o congresso foi também criada uma “Federação franco hispano

portuguesa de sindicatos de iniciativa e de propaganda” cujos estatutos foram estabele

cidos na altura, e determinou se que o V Congresso internacional de turismo teria

lugar em Madrid 33

Considerações finais
Segundo Mendonça e Costa, com a criação de uma repartição de turismo “A
missão da “Propaganda” passa, pois, para uma repartição official, e a Sociedade deixa de ter
rasão de existir. Morrerá, mas morrerá coberta de gloria” 34. enganou se, no entanto,
Mendonça e Costa e, apesar da criação da repartição e conselho de turismo no âmbito
governamental, continuou a haver espaço para a atuação da sociedade Propaganda de
Portugal. nos anos que se seguiram esta continuou a publicar o seu Boletim, editou
guias de várias localidades portuguesas, alguns dos quais traduzidos para outras lín
guas, promoveu excursões e multiplicou a sua ação em prol do desenvolvimento do
turismo.
zação do congresso de 1911 tiveram, como vimos atrás, incidências diretas sobre a
questão do desenvolvimento dos transportes e da criação de infraestruturas destina
das a receber condignamente aqueles que visitavam Portugal

Fonte : Ana Cardoso de Matos, Maria Ana Bernardo e Maria Luísa Santos
CideHus/universidade de Évora
Bem Hajam 
Carlos Fernandes                           






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