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domingo, 8 de dezembro de 2013

O bordado de Castelo Branco

O bordado de Castelo Branco reconhece-se pelas suas temáticas decorativas predominantes, apesar da diversidade de composições, mas também pelos materiais com os quais é elaborado, pela técnica empregue e pelos coloridos ímpares.
O linho é a fibra natural de suporte ao bordado feito principalmente de seda natural tingida de diversas cores e tonalidades. Podemos dizer que s ão “bordados com sedas sobre linho”. Raras vezes é o linho usado como fio de bordar ou a seda usada como tela para bordar.
São muito variados os pontos usados no bordado de Castelo Branco. Nas colchas de Castelo Branco usam-se alguns pontos, como o ponto cadeia, alguns que fazem lembrar o crivo ou outros tão singelos como o ponto pé de flor. Mas o ponto que tomou o nome da cidade é o chamado “ponto a frouxo”. Cobre extensões maiores, os cravos espalmados, o caule ou as raízes da árvore da vida. Apenas é recoberto o lado direito do bordado, pois a agulha atravessa o linho e volta imediatamente a emergir bem junto a esse ponto, para deixar linha, praticamente, apenas, nesta face do bordado. Só com um bastidor em que o linho esteja bem esticado, é possível bordá-lo.
Terá tido início em Portugal, supostamente pelo século XVII, por influência das colchas orientais, ou seja, é de influência indo-portuguesa.
A influência oriental está patente na estrutura decorativa, nos pontos e no simbolismo. Mas a forte apropriação pelo contexto beirão foi-lhes conferindo identidade própria.
Nos séculos XVI e XVII as colchas orientais integravam na sua estrutura decorativa a figura humana e referência aos sentidos: visão, audição, olfacto, paladar e tacto. Embora as colchas de Castelo Branco mais eruditas, em geral, não integrem a figura humana, as populares foram colher esta influência oriental da colcha dos cinco sentidos.
Há quem diga que para as colchas de Castelo Branco não passaram o sentido da visão e o sentido do gosto. Não sendo especialista, em nossa opinião, um par de namorados, olhando-se frente a frente, por certo representam o sentido da visão. O que não encontramos é o sentido da visão armado de algum objecto que o amplie ou melhore, como por exemplo, numa colcha oriental do século XVII em que surge uma figura humana com uma luneta, supostamente dirigindo o olhar para o firmamento. Interessante, este instrumento aparecer numa colcha, na altura em que Galileu perscrutava os céus com a sua luneta, que fora aperfeiçoada a partir de ancestrais instrumentos ópticos que já há muito circulavam e se usavam, não tanto com os fins científicos com que este a usou e que lhe valeu uma dura condenação.
Da mesma maneira, o sentido do gosto pode bem estar representado quando uma personagem segura uma peça de fruta, tal como se considera associado ao sentido do cheiro, o simples gesto de segurar uma flor ou um ramo.
A estrutura das colchas, principalmente das eruditas, mais fielmente reproduzidas, segue a estrutura dessas colchas orientais. Com frequência se organizam a partir de um medalhão no centro, geralmente temático, circundado por um campo mais vasto e profusamente decorado. Por vezes apresentam outros medalhões, nos cantos. Têm barra e franja.
Bem Hajam 
Carlos Fernandes 

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