COMENDADEIRA, s. f. Mulher que tem comenda; comendadora: "veio à côrte D. Jorge, mestre das ordens de Santiago e de Aviz, e se aposentou em Santos o Novo, onde estava a comendadeira sua mãe", Francisco de Andrade, Crónica de D. João III, IV, cap. 43, p. 169.
HIST. Comendadeiras de Santos: Uma velha tradição diz ter o rio Tejo arrojado a uma das praias da sua margem direita, que depois se ficou chamando de Santos, os corpos dos santos mártires Veríssimo, Máximo e Júlia, irmãos, naturais de Lisboa, filhos de pais nobres e ricos, mandados martirizar por Públio Daciano, legado do imperador Diocleciano. No local, pela tradição indicado, mandou D. Afonso Henriques edificar a Igreja de Santos, e D. Sancho I um mosteiro, destinado aos cavaleiros da Ordem de Santiago da Espada. Mais tarde, tendo estes recebido de D. Afonso III as vilas de Mértola, Alcácer do Sal e Palmela, foi o mosteiro concedido a algumas senhoras parentes dos cavaleiros de Santiago, a quem D. Afonso Henriques concedera o título de Comendadeira e que por êsse tempo viviam reunidas numa quinta em Arruda dos Vinhos.
Largos anos estiveram essas donas e donzelas no mosteiro de Santos, sendo conhecidas vulgarmente nessa época por mulheres da obrigação dos cavaleiros de Santiago. Porém, em 1470, D. João II mandou que essas senhoras passassem para a ermida de Nossa Senhora do Paraíso, entre os conventos de Santa Clara e Xabregas, enquanto se construia, o de Santos-o-Novo, edificado na calçada da Cruz da Pedra, freg. de Santa Engrácia. Em 1475 entraram as comendadeiras naquele novo e vasto convento, com bons dormitórios, grande claustro arborizado, tendo o espaçoso edifício muitos compartimentos e 365 janelas. E anos depois, foram solene e processionalmente transportadas para o convento de Santos-o-Novo as relíquias dos Santos Mártires, que desde o reinado de D. Afonso Henriques estavam guardadas na igreja de Santos-o-Velho, que assim passara a denominar-se a igreja antiga. As relíquias foram encerradas em cofres de prata, colocados à direita do altar-mor da igreja. As senhoras recolhidas naquele mosteiro gozavam de muitas honras e privilégios, não sendo consideradas freiras. Eram pessoas nobres, que podiam ter criadas ao seu serviço. Algumas delas professavam votos iguais aos cavaleiros da mesma Ordem de Santiago. Pertenceram à Ordem senhoras de nobre estirpe, como D. Auzenda Egas, descendente de Egas Moniz e D. Sancha Martins Peres, que foi a primeira superiora. Como D. Afonso Henriques recomendara em uma carta para Arruda dos Vinhos, quando as senhoras das famílias dos cavaleiros de Santiago ali se encontravam, que usassem toucados honestos, as comendadeiras seguiram sempre essa recomendação, vestindo trajos de sêda preta colocando sôbre êles mantos brancos de tule com as cruzes de Santiago e toucados também brancos nos cabelos. A princípio ocuparam, cada uma, várias dependências do convento, mas, pouco a pouco, foram vivendo mais modestamente, contentando-se cada uma com mais reduzido número de compartimentos; e o título de comendadeira chegou ao séc. XIX apenas como honorífico.
O terramoto de 1755 arruinou bastante o edifício, chegando as senhoras ali recolhidas a terem que armar barracas na cêrca do convento para ali se abrigarem, até se reedificarem os seus dormitórios. Em 1833, o mosteiro podia acomodar 500 pessoas. Mas nesse mesmo ano D. Pedro IV ordenou que as religiosas de todos os conventos recolhessem para dentro das linhas de defesa de Lisboa, e a maior parte das comendadeiras de Santo-o-Novo recolheu ao mosteiro da Encarnação, da Ordem de S. Bento de Aviz. Terminadas as lutas civis, as comendadeiras regressaram ao seu convento.
O edifício do convento de Santos é actualmente (1941) património do Estado e destinado a recolhimento de viúvas e filhas de oficiais do Exército e da Armada e funcionários públicos, dependendo da Direcção Geral de Assistência Pública. No edifício estão também escolas primárias e o Instituto Presidente Sidónio Pais, do Prefessorado Primário (secção masculina).
Bem hajam
Carlos Frnandes
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